O romance é, talvez, o gênero cinematográfico mais popular, mas também o mais desgastado e cheio de clichês. Graças aos “Crepúsculos” da vida, o gênero sofre, também, com preconceitos. Portanto, quando um verdadeiro romance, que faça jus ao gênero, é lançado, temos que enaltecê-lo.
Namorados para Sempre (Blue Valentine) é, portanto, um excelente exemplar de que, para se ter um ótimo romance, não há necessidade de histórias piegas, com príncipes/princesas encantadas e finais apoteóticos, como o sempre inverossímil “felizes para sempre”. Nesse sentido, o diretor Derek Cianfrance, que também escreve o roteiro junto com Joey Curtis e Cami Delavigne, apresenta total domínio da narrativa do longa, ao imprimir ao filme um tom alternado entre paixão e melancolia.
Narrando a trajetória amorosa de Dean e Cindy o filme, montado em sequência não linear, se inicia com os personagens casados e com uma filha (a ótima Faith Wladyka). Assim, já os conhecemos cansados da rotina e com o relacionamento gasto por anos de mágoas acumuladas, para, logo em seguida, sermos apresentados aos Dean e Cindy jovens, idealizadores e prestes a se conhecerem.
Desse modo, a montagem do filme, com bastante coerência, intercala alguns momentos da vida amorosa do casal, e, com isso, eleva ainda mais o que está acontecendo na tela. Cito como exemplo a brilhante cena final, quando vemos, alternadamente, momentos do casamento deles enquanto, no futuro, esse mesmo casamento termina. Assim, as emoções de ambos e em consequência as nossas, ao presenciarmos, inclusive, seus pensamentos, são intensificadas culminando, respectivamente, no último abraço do casal e no primeiro beijo de casados.
O grande trunfo do filme é contar uma história que poderia acontecer com qualquer pessoa. Dean e Cindy não são perfeitos, não se conheceram de uma maneira inusitada e inacreditável e, principalmente, não viveram um conto de fadas. Qualquer relação amorosa pode se desgastar com o tempo e a deles também se desgastou a ponto de chegar ao fim.
Para dar tamanha veracidade a história, Michelle Williams e Ryan Gosling se entregam aos melhores papéis de suas carreiras até então. Williams, que conseguiu sua segunda indicação ao Oscar por esse filme, nos passa tanto a paixão e a esperança de uma Cindy adolescente e apaixonada quanto o cansaço e o desânimo da Cindy adulta e mãe, que se vê obrigada a pedir o divórcio, ao passo que Gosling transmite o carisma do Dean jovem e a amargura e inconformidade do Dean adulto com a separação.
O longa conta também com uma bela fotografia em tons azuis, sobretudo nas cenas que se passam no interior do “quarto futurista”, e uma inspirada trilha sonora, composta pela banda norte-americana de rock alternativo Grizzly Bear, capaz de potencializar ainda mais as emoções nos mais diversos momentos do casal.
O filme se encerra com belos créditos finais compostos por fotos de momentos importantes do casal, como uma espécie de álbum de recordações daquela vida romântica que, apesar de não conseguir resistir ao mundo real, foi intensa e importante para eles. Vinícius de Moraes diria: “Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.”