Por Lívia Fioretti
Para ser bem sincera, eu nunca tinha escutado falar sobre O Pequeno Fugitivo antes de ir à cabine de imprensa, maaaas como toda apaixonada por filmes antigos (só eu acredito que quanto mais, melhor?) já sentei na cadeira do cinema com expectativas altas. Como diz uma das leis do marketing: “A satisfação do cliente está diretamente relacionada com sua expectativa. Quanto mais alta, mais difícil é satisfazê-la” (viu só, Philip Kotler também é cultura!). E sim, fiquei apaixonada!
O filme conta a história de uma brincadeira infantil que se torna uma grande dor de cabeça e uma aventura extraordinária: Joey Norton (Richie Andrusco) é um FOFÍSSIMO menininho de sete anos, que ao ser enganado pelos amigos de seu irmão mais velho acredita que deve fugir para não ser morto por policiais. O protagonista encontra refúgio em um parque de diversões de Coney Island, transformando o final de semana de seu irmão (que ele acredita que assassinou).
O semi-lendário indie americano de 1953 é uma lembrança para os adultos do quão extraordinário são os prazeres da infância. Joey, antes de fugir, volta para casa e pega seis dólares que sua mãe havia deixado. Chegando ao parque de diversos, aquele dinheiro se torna a passagem de ida para viver suas aventuras. Quem não sente saudades de comer cachorro quente, sorvete, algodão doce sem ficar com o menor peso na consciência? Além de passar uma tarde inteira andando de carrossel, montanha russa e pôneis, sem ter que se preocupar com aquele trabalho para o final da semana ou com aquela prova chata?
Escrito e realizado por Morris Engek, Ruth Orkin e Ray Ashley, o trabalho teve uma importância tremenda para a história do cinema: seu estilo espontâneo de produção foi uma das maiores inspirações de François Truffaut para a criação da Nouvelle Vague francesa, como o próprio afirmaria depois: “O movimento nunca teria saído do papel se não fosse pelo jovem americano Morris Engel, que nos mostrou o caminho para a produção independente com este (maravilhoso) filme”.
O filme é considerado marcante por críticos modernos graças à sua naturalidade, estilo e excepcional uso de atores não profissionais nos papéis principais. Foi indicado para o Oscar de Melhor Roteiro e exibido no Festival de Veneza, onde recebeu um Leão de Prata. Como se não bastasse, em 1977 o filme foi selecionado para preservação no Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos, pela Livraria do Congresso americano sendo considerado “culturalmente, historicamente e esteticamente significante”.
Com apenas uma câmera de mão, baixo orçamento, diálogos mínimos e um olhar inocente de Joey, o filme consegue levar até o espectador mais rabugento aos encantos da infância. Então a dica que eu dou é: segure-se firme no cavalinho, porque essa viagem de carrossel vai te levar diretamente à época do algodão doce.
Você não sabia que…
– O filme foi gravado em locações em Coney Island e Brooklin, ambas em Nova York.
– As pessoas que estão na praia e no parque não são figurantes contratados, e sim banhistas de verdade que nem sabiam que estavam sendo gravados.
– As filmagens foram feitas sem tripé e com auxilio de uma engenhoca criada por Engel e o inventor Charlie Woodruff (seu ex-companheiro da Segunda Guerra Mundial), que se tornou a alma do filme possível. Com o passar dos anos, tanto Kubric quando Godard pegaram o aparato emprestado para suas filmagens.
– Truffaut se inspirou no estilo de produção espontânea do filme para criar Os Incompreendidos.
Veja o trailer: