Por Frederico Cabala

“Toda a história da luta palestina tem a ver com o desejo de ser visível”

Escreveu o estudioso árabe Edward Said no prefácio de Sonhos de uma nação. Contendo ensaios sobre a produção cinematográfica palestina, o livro se candidata a esmiuçar o quadro histórico e socioeconômico que deságua na atual efervescência de filmes de um cinema em que há identidade nacional mesmo sem estado. A intensa produção é percebida desde o início dos anos 2000. Em 2006, Paradise Now (2005) foi o primeiro filme palestino indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

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Condom Lead (2013), dos jovens gêmeos Ahmad Abou Nasser e Mohammed Abou Nasser (também chamados de Arab e Tarzan Nasser), está inserido nesse contexto em que as novas produções palestinas encontram reconhecimento internacional. Foi o primeiro curta palestino a concorrer ao Palma de Ouro na edição de 2013 de Cannes.

O filme, que possui coprodução da Jordânia, retrata a rotina íntima de uma família — pai, mãe e filho bebê — em meio à guerra. Mais que retratar, aliás, o filme parece querer despertar questões sobre o tema. Há espaço para intimidade quando sua casa está prestes a ser bombardeada? É possível afeto e medo habitarem o mesmo corpo e o mesmo teto? Como ficam os desejos quando divididos com barulhos, clarões e tremores? O massacre pode virar cotidiano?

Arab e Tarzan mostram de que maneira tais conflitos internos são impactados pelos externos. Fazem isso de modo admirável principalmente por conseguirem dar leveza à história narrada através da iluminação à meia-luz e câmera que transita ora com suavidade, ora com brusquidão.

Condom Lead é um título proveniente da operação batizada como Cast Lead (Operação Chumbo Fundido), ocorrida entre o fim de 2008 e início de 2009. Foram 22 dias de bombardeios que ficaram também conhecidos como “Massacre de Gaza”, evento que guarda relação com o que tem acontecido ainda hoje na região.

Confira o trailer: