El Cielo de los Animales usa o método observativo, usado em grandes filmes documentais como O Triunfo da Vontade, de Leni Riefenstahl (1935), Primárias, de Robert Drew (1960) e High School, de Frederick Wiseman (1968), onde o (s) realizador (es) “não intervém” na filmagem e buscam o mínimo de contato com os personagens, como se fossem uma “mosca na parede”.

Juan Renau nos mostra a escravidão invisível que são os desfiles de beleza de cachorros. Por meio de planos bem fechados, ele faz o retrato de cães como inocentes princesas de contos de fadas, extasiadas e sem liberdade de escolha para viver. Os closes conseguem captar as aflições e sufocamentos em que estes animais estão, eles desfilam, são as estrelas, e ficam sempre à espera do júri, mas logo após isso estão sempre presos, estressados ou chorando nas jaulas.

Com uma bela fotografia, o curta consegue captar ironicamente a loucura de donos com seus cortes de pelos sem noção, como uma crina de cavalo ou pintar de 13 cores um animalzinho. Eu me lembrei muito de filmes como Little Miss Sunchine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris (2009), concursos de beleza infantil ou simplesmente a história da minha prima, que quando era criança a minha tia quase a torturava penteando seus “perfeitos cachos dourados”, e como ela, sem liberdade de expressão, os animais são mais uma vez (não bastando a indústria da carne, laticínios, etc.) escravizados e os apropriamos, como nos zoológicos, sem a permissão deles mesmos, pois o ego do ser humano é tão grande que achamos que podemos simplesmente “pegar” animais e montar uma indústria em torno deles, porque “deus nos deus” e apenas utilizamos uma venda pelo fato deles terem sistema nervoso. A diferença é que minha prima cresceu, raspou seu cabelo e tem a liberdade para fazer as tatuagens ou o corte que quiser, já os animais não tem esse livre-arbítrio.

No fim, “El Cielo de los Animales” é uma metáfora de como nossas ações são um espelho de nossa própria solidão, enfeitamos os pets e os colocamos como figuras exóticas por medo de nos expressarmos verdadeiramente e sofrermos julgamentos de uma sociedade careta e padrão.

*esta crítica faz parte da cobertura do Cinemascope no Indie Lisboa – Festival Internacional de Cinema de Lisboa

Assista aqui ao teaser: