La Chanson foi uma das surpresas do Festival de Curtas Vila do Conde. Ao ler a sinopse, pode-se ter a impressão de que se trata de uma história comum e engraçadinha, mas a diretora, que também é uma das atrizes, consegue realizar um trabalho muito interessante em meio a uma ficção com traços documentais. Logo no início, uma das três personagens narra a criação da Disney World de Paris, o primeiro espaço da França vendido a empresas privadas pelo governo. Em contrapartida, a empresa americana praticamente construiu uma cidade em volta da região do parque, com réplicas perfeitas não somente do Castelo da Cinderela, mas também de próprios espaços franceses. O mais interessante da obra é como a história se conecta à questão social de como o Parque de Diversões foi criado. Uma mistura do que a princípio é uma comédia, na qual três amigas ensaiam incessantemente para ganhar uma competição de covers do ABBA, até um forte drama com toques de thriller e suspense.

Mesmo passando por inúmeros gêneros como os dito acima, sem dúvida La Chanson ganha os pontos por ser irônico e sarcástico na medida certa. Uma grande crítica social desde a empresas e o governo até como cada um de nós tratamos os próximos e as pessoas que estão conosco. As três personagens têm uma relação abusiva, uma das três cobra excessivamente das outras duas, a construção das personagens foi bem realizada, com grande dinamismo entre os diálogos. Uma comanda o trio, a outra apenas obedece, e a última, que acaba por ser meio que perdida, se torna uma compositora de músicas em que as letras falam sobre cigarro eletrônico, Sony e outros assuntos tecnológicos. Tiphaine Raffler soube construir lindamente uma obra na qual mulheres protagonizam questões sociais, empresariais e humanas.
Confira abaixo o trailer do filme:

*Este texto faz parte da cobertura da 26° edição do Festival Internacional Curtas Vila do Conde