Com estreia no Festival de Veneza, o novo curta do brasileiro Paulo Miranda Maria utiliza toda a a linguagem já consagrada em seus filmes anteriores como Command Action e A Mulher que dançou com o Diabo. A lente que a fotografia faz uso dá um grande estilo visual, além de invocar um clima para a história junto aos movimentos de câmera. Além disso, mais uma vez o autor aborda a cultura popular como a música sertaneja e um motoqueiro vestido com uma jaqueta com a foto da Nicki Minaj em Anaconda na parte de trás. O ponto forte do diretor é fazer um bom uso de temas sociais de forma poética e visualmente bonito. Em Meninas Formicida a grande questão é o aborto, assunto mais atual impossível e grandemente discutido. Porém, não se limita a ela, abordando também a tecnologia, misoginia e muitas outras entrelinhas que percebemos aos poucos com o decorrer da história. Roteiro que e entrevistas o realizador afirmou que trabalhou por anos até poder colocar em produção.
               Mesmo não reinventando seu estilo, o mais honroso é a forma com que delicadamente a história é tratada, mesmo sendo a visão de um homem sobre um movimento feminino. Começamos a assistir e de repente estamos lá vivendo junto com a protagonista todas as suas dores e medos. O universo de tensão e medo que nos situamos é no qual a personagem principal vive. Tudo é de certa forma místico e perigoso. Na história, a protagonista não tem a inocência das personagens anteriores de Miranda. Ela sabe o que está passando, mas se vê perdida, exatamente como as muitas mulheres que têm de passar por situações críticas por conta da ilegalidade do aborto no Brasil e em muitos países.
               O grande trabalho visual atrelado a temas sociais é um dos motivos de João ser aclamado internacionalmente, pois, não é algo jogado na nossa cara, e sim servido a nós com dignidade e o convite para uma bela história. Muitas referências ao próprio cinema como, por exemplo, o faroeste no começo ou um plano lindíssimo que tem um close no rosto de um homem lembrando a cara de uma formiga compõem a obra. O trabalho do diretor é uma grande construção narrativa e visual. Não se tem muito diálogos, mas com certeza inúmeras proposições que são o impulso para longos debates.
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Confira abaixo o teaser do filme:

*Este texto faz parte da cobertura da 26° edição do Festival Internacional Curtas Vila do Conde