Por Guilherme Franco
O curta inicia com o som de uma ventania que parece distorcida e já deixa uma tensão e mistério no ar. Segue com imagens de ruínas, com fotografias em branco e preto e, rapidamente, muda para o cenário da cidade até as pessoas entrarem em cena. A tela fica escura e um alto-falante anunciando no fundo a morte de um indivíduo.
No meio dessa reconstituição sensorial, somos levados a pequenos depoimentos deixando um certo medo que convertam numa decepção, quero dizer, que todo o suspense construído seja apenas a introdução de mais uma obra composta apenas por talking heads. A metáfora de um projetor de película é feita pelo som, mas o que na verdade se revela uma máquina de costura. Cena esta que simboliza boa parte do filme, esse ser e não ser. A forma com a qual consumimos o audiovisual atualmente. Temos telas de celulares no trajeto de ônibus, com a luz refletindo na tela, muitos sons em volta e toda a experiência outrora onipresente do cinema praticamente já não existe mais.
A montagem segue tentando reconstruir a experimentalidade do começo, o mistério e curiosidade. Com depoimentos soltos, parecendo não ter sentido. Quem assiste pode captar algumas referências também flutuando na obra, como cartazes de filmes antigos (Casablanca, O Mágico e o Delegado), e formas distintas de se fazer documentário. Cinema direto, participativo, poético, o curta usa técnicas variadas para o que parece ser tentar uma ressuscitação da narrativa, toda hora buscando uma mão que alguém pudesse puxar.
A obra é uma grande desconstrução, do cinema, da narrativa, do contexto atual. Como a própria sinopse traz a questão das ruínas, o curta acaba sendo um monte de pedaços tentando se juntar e existir, que assim como parte do cinema brasileiro sempre foi, uma luta para resistir e continuar presente.
No fim, um dos personagens começa a falar uma nota de falecimento na qual nomes de muitos cinemas são citados, provavelmente pela não-existência mais desses estabelecimentos hoje. Cinemas de rua, e o próprio cinema, a arte da experiência e de viver um novo universo em uma história numa sala escura, que felizmente se democratiza, mas infelizmente ainda se tem alto preços nos ingressos e menos pessoas indo aos cinemas.
Talvez A Morte do Cinema seja a tentativa de uma narrativa, de um diálogo, assim como hoje a arte e os próprios espectadores se encontram perdidos em meio a tantas opções e ao mesmo tempo sem tantas opções, de fato.