Por Lívia Fioretti

Uma sala escura, em um cenário preto e branco… Um galante detetive está sentado atrás de sua mesa, envolto na fumaça de seu charuto caro esperando que a cidade clame por seu serviço. Até que entra em seu escritório uma femme fatale misteriosa que necessita de uma ajuda urgente. Se você acha que conhece bem esta cena, é porque a mesma fora recriada inúmeras vezes fazendo um paralelo com o que é considerado o pioneiro dos filmes noir, O Falcão Maltês.

O filme de 1941 é uma produção dos estúdios Warner e baseado no romance de mesmo nome de Dasshiell Hammett. O filme de John Huston conta com Humphrey Bogart no papel principal e com a estreia de Mary Astor como a cliente.

Cinemascope - O Falcão Maltês

Sam Spade é procurado em seu escritório em San Francisco por uma mulher misteriosa, com a missão de encontrar sua irmã desaparecida. O que aparentava ser um caso simples, complica-se quando este passa a ter relação com estranhos acontecimentos, como o assassinato do sócio do detetive. Tudo conectado à busca de uma estátua de um falcão encrustada de jóias.

Huston já era um renomado roteirista hollywoodiano e teve a obra como sua estreia na direção. Mesmo que o livro de Hammett já tendo sido adaptado duas vezes para as telonas, sem sucesso, a produção de 1941 emplacou como um dos maiores clássicos do cinema graças ao roteiro intrigante e fiel ao original. Para ter certeza de que tudo sairia conforme havia imaginado, Huston planejou os detalhes de cada segundo do filme, fazendo desenhos de todas as cenas com o intuito de tornar a produção mais profissional e fluente. Além do mais, escreveu o roteiro com tamanha riqueza em detalhes que foram necessárias pouquíssimas exclusões na edição, o que auxiliou os atores alinhados ao fato de o filme ter sido filmado em sequência (com exceção de algumas cenas noturnas).

Além do roteiro, não podemos esquecer o trabalho do Diretor de Fotografia Arthur Edeson e do excepcional manejo de câmera utilizado, que teve um papel importante no sucesso do filme. Há a presença marcante de ângulos inovadores e não usuais (como no nível do chão, por exemplo) enfatizando a personalidade das personagens e a natureza de suas ações, além de claro, a predominância da clássica luz baixa.

Cinemascope - O Falcão Maltês2

O Falcão Maltês é considerado um dos maiores filmes de todos os tempos pelo grande crítico de cinema Roger Ebert e pela revista Entertainment Weekly, além de ser considerado o primeiro grande filme noir pelo livro Panorama du Film Noir Américain. Tal força pode ser confirmada por suas indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (para Sydney Greenstreet) e Melhor Roteiro Adaptado.

VOCÊ NÃO SABIA QUE…

– O próprio Hammett (escritor do livro que deu origem ao filme) trabalhou como detetive particular para a Pinkerton Detective Agency, também em San Francisco.

 – Samul (Sam) é o primeiro nome do escritor.

– Humphrey Bogart não foi a primeira escolha para o papel, que era inicialmente de George Raft. O ator o recusou por não querer trabalhar com um diretor inexperiente.

– Joel Cairo é um personagem bissexual no livro, mas para evitar problemas com a censura hollywoodiana, decidiram representá-lo como “levemente afeminado”.

– O pai do diretor, Walter Huston, faz uma ponta como o Captain Jacobi.

– A estatueta original do filme foi vendida em novembro do ano passado por US$ 3,5 milhões, em Nova York.

– As filmagens foram tão tranquilas que a produção não teve nenhum problema com horários, havendo até um tempinho de sobra para que Huston, Bogart, Astor, Bond, Lorre e outros pudessem aproveitar a piscina dos estúdios Warner e conversarem sobre qualquer assunto que não fosse o filme.

Veja o trailer: