Por Guilherme Franco
Baseado em diálogos satíricos e diários sobre bruxaria, com uma pesquisa de anos do diretor, A Bruxa traz uma nova versão de um conto inglês sobrenatural. Coproduzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira da RT Filmes, o longa mostra uma constante luta da protagonista pela aceitação de sua mãe em um cenário de paranoia e alienação religiosa.
A religião seria uma forma de bruxaria? Um momento singular de constante tensão de sentimentos imperfeitos diante de uma moldagem com artifícios, como o pecado e o dízimo, acaba se tornando de certa forma um ritual com vários significados subjetivos? A personagem Thomasin (Anya Taylor-Joy) está sempre na linha do desconhecido e aquela sensação de crescimento e estranheza e, para ela, a fixação com todos os símbolos e o contexto místico da narrativa se torna um cenário de incertezas e insegurança.
O que começa com o drama familiar entre os irmãos, Caleb (Harvey Scrimshaw), Mercy (Ellie Grainger) e Jonas (Lucas Dawson) é intensificado com a figura do bode Black Philip trazendo cada vez mais simbologias do diabo e um novo encorpamento ao filme. Em meio a descoberta sexual de Thomasin, disfarçada pelo contexto de caça às bruxas, a mãe Katherine (Kate Dickie), com suas grandes expressões que se encaixam perfeitamente a narrativa, desacredita de sua filha a cada instante, sempre a culpando pelo que acontece com seus irmãos. O pai William (Ralph Ineson), traz a ingenuidade masculina ao filme, protegendo sua filha, mas que poderia ter sido melhor explorada com maiores ações.
A Bruxa não é um filme que tem uma inovação no roteiro ou uma grande linha de suspense, um aspecto interessante é a trilha sonora aparecer muitas vezes como protagonista, como se quem fosse o principal na história fosse a música. O diretor Robert Eggers utilizou uma fotografia escura misturando uma paleta de cores em tons pasteis, além do marrom e o negro, tudo isso trazendo uma misticidade singular a obra. O único momento que as cores são diferentes é com a figura da bruxa, que traz o vermelho e a mulher erotizada como símbolo do mal.
Muitas cenas poderiam ter sido melhor aproveitadas, várias vezes temos o preto preenchendo cem por cento da tela e apenas o som aparecendo, e todas essas vezes esperamos para ser assustados e nada acontece, e aí lembramos da lição de nosso mestre Hitchcock, de que o que mais assusta é a tensão antes do acontecimento e não ele próprio. O filme termina com um grande desejo de continuação. O que será o futuro de nossa protagonista? Acabamos ansiados por uma continuação que nunca existirá, como um mistério do clã em que Thomasin entrou e nós, meros mortais, apenas poderemos imaginar.
A Bruxa vem com a promessa de um novo clássico do horror, com o grande trabalho técnico imagético do diretor. O filme promete grande terror e medo, mas traz algo mediano e muito primário, que nos inicia ao susto a todo momento, mas que não é desenvolvido.
A Bruxa (The VVitch)
Ano: 2015
Direção: Robert Eggers
Roteiro: Robert Eggers
Elenco Principal: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie
Nacionalidade: Estados Unidos, Canadá
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