Por Guilherme Franco

“Um mundo onde tudo que é vivo palpita sobre nossos dedos. ”

Como seria um mundo sem o audiovisual? A história de Marie Heurtin (Ariana Rivoire) é mais ou menos assim. O diretor Jean-Pierre Améris enfrentou o desafio de fazer uma obra onde a protagonista é deficiente visual e auditiva. A história se passa na França e relata força e superação. Inspirada em eventos reais, de como uma simples e aparente frágil freira ensinou a linguagem de sinais para uma menina com um comportamento tão distante da sociedade dita convencional.

O filme começa com uma cena liricamente bela, onde Marie está com seu pai em uma carroça, ele a levando para um convento, onde irá tentar com ajuda das freiras, colocar um sentido maior na vida daquela criança “fora dos padrões”. Uma das reflexões de maior visibilidade no filme é de como o que não é entendido pela sociedade, a religião explica, arruma ou apenas esconde, fato este que acontece ainda hoje.

“Eu a afastei do pouco que ela conhecia. Eu a retirei do seu mundo. ”

Um dos aspectos do filme é sua fotografia bem escura em lugares internos, de forma a dialogar com a época, cujo sistema elétrico não era tão avançado. Nas locações externas, o filme ganha mais clareza e um trabalho maior com a paleta de cores que predomina com o azul, bege e tons pasteis. A Linguagem do Coração é um longa que traz uma história forte, mas que em sua realização não avança na representação dramática. Ele mantém uma superficialidade, como que para, aparentemente, conquistar o público de massa, e fica devendo um sofrimento que poderia ser ao nível de Dançando no Escuro do tio Lars, por exemplo.

Assim como o ucraniano A Gangue, o filme poderia ter apostado numa abordagem mais sensorial, ter um trabalho maior com as singularidades sonoras que o filme requer e as deficiências que a protagonista possui. A história requeria um maior trabalho poético, com uma trilha sonora melhor colocada e pontos dramáticos melhor estruturados no andamento da trama. Outro ponto interessante a ser destacado é o trabalho com a Língua de Sinais, a captação de som desse detalhe tão fundamental poderia ser melhor trabalhada estética e originalmente. A Linguagem do Coração promete e tem potencial para um longa de forte pressão dramática, mas deixa a desejar em sua realização.

 “Nossa vida inteira é uma revolta. ”

A Linguagem do Coração

A Linguagem do Coração (Marie’s Story)

Ano: 2014

Direção: Jean-Pierre Améris

Roteiro: Jean-Pierre Améris e Philippe Blasband

Elenco Principal: Isabelle Carré, Ariana Rivoire, Brigitte Catillon, Noemie Churlet

Gênero: drama

Nacionalidade: França

 

 

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