Por Luciana Ramos
Após o anúncio do fechamento da revista Life, Walter Mitty (Ben Stiller) recebe a incumbência de preparar a foto n° 25, referida por Sean O’Connel (Sean Penn), fotógrafo e colaborador de anos, como a “quintessência da revista” para a última capa. Só há um grande problema. Ele não consegue achá-la e ninguém sabe dizer ao certo a localização de Sean. Motivado em manter seu emprego e aproximar-se de Cheryl Melhoff (Kristen Wigg), Walter decide investigar o rolo de negativos incompleto para localizar a misteriosa foto e parte numa viagem repleta de emoções.
De vez em quando aparece um filme com a pretensão de relembrar-nos sobre a brevidade da vida e a importância de aproveitá-la intensamente. Para dar maior impacto, é escolhido um personagem aparentemente insosso, mas simpático, cuja vida é uma sucessão de experiências chatas e sem significado. Este poderia ser classificado como “mais um desses filmes”, mas ganha novas dimensões pela maneira como é construído.
O que torna A Vida Secreta de Walter Mitty diferente de outras histórias do tipo é o protagonista. Ele não é um homem chato, mas sim alguém que era interessante e foi forçado por circunstâncias a cuidadosamente embalar seus sonhos e enjaulá-los na sua mente, única válvula de escape. Em uma bela cena, ele responde ao chamado da aventura e corre pelos corredores da Life, recheados de capas com personalidades como John Kennedy e John Lennon até passar por uma fotografia sua com capacete de astronauta, alusão a busca do herói em explorar o desconhecido. Então, a imaginação, antes fuga, transforma-se em impulso para novas experiências.
As ótimas atuações, mesmo nos menores papéis, contribuem para definir o tom do filme. Ben Stiller está excelente em um Walter Mitty conciso na medida certa, mas ainda com certo apelo ao público. Shirley MacLaine e Kathryn Hahn transbordam simpatia como a mãe e irmã de Walter. Kristen Wigg é tão facilmente amável que não há como não torcer para um final feliz e Sean Penn é a perfeita encarnação do espírito aventureiro.
O sucesso da trama, no entanto, deve-se muito aos trabalhos de fotografia, efeitos especiais e figurino. Ao começo, Walter é “um pedacinho de papel cinza”: sua falta de relevância é reforçada por figurinos dos mesmos tons dos ambientes em que se insere, impedindo-o de sobressair. Por sua vez, a fotografia reforça o contraste da realidade com os sonhos. Quando usa a imaginação, os tons pastéis e terrosos são substituídos por uma gama de amarelos, verdes e vermelhos que saltam aos olhos, um claro aviso de que toda a emoção da sua vida está contida apenas na sua imaginação. Naturalmente, isso muda quando Walter viaja e a tela vira uma explosão de cores. Esta escolha estilística, embora já usada em outras obras de temas semelhantes, como Mais Estranho que Ficção, é imprescindível para o entendimento e total imersão do público na trajetória do herói, além de ser um deleite visual.
Apesar da eficiência técnica, alguns aspectos como a propaganda excessiva do site de namoros E-Harmony e o alongamento desnecessário de algumas cenas nos faz desejar que a história fosse um pouco mais concisa.
A Vida de Walter Mitty é uma agradável surpresa de fim de ano. Uma boa história sobre descobertas que ganha um pouco mais de relevância por ter como pano de fundo a crise das revistas impressas frente a perda de leitores para mídias digitais. Além disso, trata-se de uma guinada na carreira do multifacetado Ben Stiller e uma prova do seu talento não só como ator, mas também diretor. Um filme que nos faz carregar sua mensagem para fora da sala de cinema.
A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Lifeof Walter Mitty)
Ano: 2013
Direção: Ben Stiller
Roteiro: Steve Conrad
Elenco Principal: Ben Stiller, Kristen Wiig, Shirley MacLaine.
Gênero: Aventura, Comédia, Drama
Nacionalidade: EUA.
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