Crítica do filme Ajuste de contas

Por Luciana Ramos

Vez ou outra Hollywood recicla alguns de seus clássicos, atraindo um público devoto às salas de cinema para rever os seus ídolos. O intuito é evidentemente o lucro. Essa é a proposta por trás de Ajuste de Contas, que marca um curioso embate entre dois dos maiores pugilistas da história do cinema: Rocky Balboa (protagonista do filme homônimo que, devido a inúmeras continuações, tornou-se uma espécie de alter ego ficcional do ator) e Jake LaMotta, de Touro Indomável.

Os personagens de Sylvester Stallone e Robert de Niro adquiriram novos nomes e a trama agora se passa em Pittsburgh. Eles são respectivamente Henry “Razor” Sharp e Billy “The Kid” McDonnen, dois boxeadores que alçaram a fama como adversários e tiveram o mesmo número de vitórias em combates entre si. Em 1983, na iminência da luta que iria determinar quem era o melhor, Razor aposentou-se sem dar maiores explicações. Trinta anos depois, o promotor Dante Slate Jr os convence a enfrentarem-se mais uma vez. A antiga rivalidade volta à tona e antigas mágoas são desenterradas. Cabe então a eles recuperarem a boa forma para resolverem todos os problemas pendentes no ringue de uma vez por todas.

Como boa paródia, não faltam citações às películas que serviram de inspiração. Como em Touro Indomável, De Niro troca sua carreira de pugilista por um bar onde faz decadentes apresentações stand-up e relembra seus dias de glória. Stallone, por sua vez, não sobe uma escadaria na Filadélfia mas são várias as alusões ao treinamento de Rocky, envolvendo grandes pedaços de carne e ovos crus. Dessa vez, Razor reclama do teor de colesterol dos ovos e é recriminado quando quer treinar socos no açougue. E é assim que a trama constrói-se: costurando gags referenciais a passagens emocionais típicas dos filmes que representam os bons valores americanos. Como esperado, os personagens enfrentam provações e superam os obstáculos, reforçando os laços de amizade e transformando-se em pessoas melhores.

Apesar do tom forçado da trama, há algumas ótimas passagens. Em determinado momento, Razor e The Kid vão a uma luta de MMA para promoverem seu embate e acabam comprando briga com Chael Sonnen – e garantindo boas risadas. Da mesma forma, alguns diálogos sobre a idade dos competidores são ácidos na medida certa mas devo dizer que a melhor piada vêm ao final, junto aos créditos. Seria um pecado estragar a surpresa, então apenas direi que ela quase vale o filme.

Sem dúvida, o maior acerto foi a escalação dos atores. De Niro está ótimo como sempre e Stallone consegue dar profundidade ao seu personagem. Não chega a ser nenhuma performance brilhante mas é certamente superior aos seus trabalhos em filmes de ação. No entanto, o melhor fica por conta dos coadjuvantes. Kevin Hart está absolutamente hilário como o promotor da luta, aquele tipo que fareja de longe o lucro e tem sempre boas ideias, mas no fundo possui um bom coração. Alan Arkin rouba a cena (como em todos os filmes em que participa) como o aposentado treinador de Razor, em um show de simpatia. Já Kim Basinger e Jon Bernthal são os responsáveis pelo apelo emocional e cumprem seus papéis com muito carisma.

Ajuste de Contas equilibra com eficiência o drama familiar com as tiradas de comédia mas não ultrapassa a barreira da mediocridade destinada às releituras de grandes clássicos. Vale a pena pelas interpretações e algumas piadas, mas nem de longe nos deixa emocionados como Rocky e Jake La Motta conseguiram uma vez.

Ajuste de contas (Grudge Match)