Por Wallacy Silva
Quatro pessoas se reúnem regularmente em um ginásio esportivo. Os integrantes desse grupo, batizado de Alpes, se revezam “substituindo” pessoas que faleceram, visando tornar menos dura a rotina daqueles que perderam os seus entes queridos. Mas a enfermeira que participa do grupo começa a desobedecer às regras que foram estabelecidas e trapacear os companheiros, ao mesmo tempo em que entra em uma crise existencial.
O filme grego exige uma boa colaboração do espectador, esperando que ele aceite a situação insólita que está colocada: será que alguém realmente contrataria uma pessoa para “encenar” um ente querido que faleceu? É muito provável que não, mas a prática é comum nesta história. O drama da dor da morte é sobreposto pelo drama da protagonista, que encontra nessa atividade a válvula de escape para a monotonia de sua própria vida. O tom melancólico e fúnebre, expresso no ritmo e na fotografia do filme, seria mais adequado se o foco da narrativa fosse o sentimento de perda, mas acaba se adaptando à crise de identidade vivida pela personagem.
A enfermeira apresenta um interesse especial por uma jovem que sofreu um acidente e que está internada em estado grave no hospital em que trabalha. Começa então a tentar fazer amizade com a paciente, se envolver com ela, conhecer os seus gostos, tal qual uma atriz que está fazendo um estudo de personagem. Quando a adolescente morre, a enfermeira prontamente vai fazer a “proposta” que é aceita pelos pais. Nesta cena a protagonista já aparece usando a munhequeira favorita da adolescente, que jogava tênis, numa mostra de que estava “pronta” para “assumir o papel”. Ao mesmo tempo ela esconde a morte de seus colegas do Alpes, dizendo que a menina se salvou por um milagre. Mas quando o líder, com o codinome Mont Blanc, descobre, a protagonista acaba tendo que lidar com as consequências, é expulsa do grupo (em uma cena forte, que lembrou um pouquinho Caché, do Haneke), e se afunda de vez em seu transtorno.
O longa se desenvolve lentamente e nos expõe a um emaranhado de fingimentos que nos faz colocar em dúvida todas as relações entre personagens. Ao final é possível cogitar que a ginasta (que abre e fecha o filme com suas performances de ginástica artística) também está interpretando alguma outra pessoa para o treinador – ambos são membros do Alpes – e até mesmo que o pai da enfermeira na verdade não seja o seu pai – o que prova o contrário? Falta verossimilhança a este trabalho do diretor Yorgos Lanthimos, e falta dinâmica para prender o espectador na história. Mas não deixa de ser interessante acompanhar essa mulher que, de tanto fingir ser outras pessoas, acaba por viciar-se em viver a vida alheia, e não saber mais quem ela realmente é.
Alpes (Alpeis)
Ano: 2011
Diretor: Yorgos Lanthimos.
Roteiro: Yorgos Lanthimos e Efthymis Filippou.
Elenco Principal: Stavros Psyllakis, Aris Servetalis, Johnny Vekris, Ariane Labed, Aggeliki Papoulia, Erifili Stefanidou.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: Grécia.
Veja o trailer:
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