Crítica do filme Amor Fora da Lei

Por Luciana Ramos

Bob Muldoon (Casey Affleck) e Ruth Guthrie (Rooney Mara) cresceram juntos e agora ganham a vida comandando um bando que pratica roubos no Texas. Um dia, porém, são perseguidos e trocam tiros com a polícia, onde Ruth acerta um policial. Encurralados, Bob convence-a de que a única opção é se entregar. Ele, na tentativa de proteger sua namorada grávida, assume a culpa pelo ocorrido e promete retornar para ela um dia.

Na prisão, onde cumpre pena de vinte e cinco anos, Bob escreve cartas reforçando sua promessa e derramando o seu amor enquanto Ruth segue criando a filha de ambos numa existência sem grandes ambições, onde parece ter encontrado paz e conforto. Ela é vigiada por perto pelo policial Patrick (Ben Foster), que se mostra afetuoso e protetor para com as duas e por Skerrit (Keith Carradine), que a tem como filha.

Tudo muda quando Bob consegue escapar quatro anos após a prisão. Na tentativa de reencontrar o seu amor, ele terá que enfrentar a perseguição policial, a reserva de Skerrit ao seu retorno e um bando criminoso que aparece para acertar contas do passado.

Por se um filme que claramente se pauta na tradição do registro cinematográfico de um retrato duro da vida do sudoeste americano e dos seus tipos marginais, Amor fora da lei é denso e melancólico por natureza. Aliado por diálogos existencialistas e uma excelente trilha com inspirações folk, oferece um panorama interessante sobre o relacionamento amoroso dos protagonistas através do contraste da estagnação de um em lembranças do passado e o embate do outro entre os sonhos de reencontro e a percepção de que talvez eles fiquem melhor separados.

Porém, a escolha narrativa de suprimir as motivações e história pregressa de alguns personagens prejudicou o roteiro como um todo na medida em que serviu para esmorecer o tom melancólico que permeia o filme. Como exemplo, tem-se o bando chega à cidade para acertar o passado com Bob. Suas aparições, nunca explicadas ou aprofundadas, quebram o ritmo e tiram um pouco da força da trama principal.

Por outro lado, só me restam tecer elogios a parte técnica. Bradford Young, responsável pela fotografia, faz um excelente trabalho de composição ao optar por planos bem compostos e com bastante movimentação de câmera, que oscilam o uso da luz vibrante do sol e da sombra para transparecer o interior dos personagens.

Os atores principais atuam de maneira inteligente e retratam com eficiência opostos românticos selados por um romance condenado. Enquanto Casey Affleck consegue dar um senso de urgência ao seu personagem em reaver todo o tempo perdido, Rooney Mara oferece uma interpretação mais rígida e comedida, com um olhar que vagueia sem fixar em ponto algum. Atuando em tamanho contraponto, dão força ao filme por tornar ainda mais difícil a concretização de um final feliz.

A história de um casal de foras da lei que foi condenado a viver separadamente ganhou ares de poesia melancólica em meio as paisagens rígidas do sudoeste americano. Ainda que sofra com deslizes de ritmo e más amarrações no roteiro (em especial ao que consente às subtramas), consegue superar as dificuldades devido a uma belíssima fotografia, atuações eficientes e uma excelente trilha sonora.

Amor Fora da Lei (Ain’t Them Bodies Saints)