Por Mario Neto

 

Ao decidir conceber a adaptação cinematográfica da peça The Deep Blue Sea escrita por Terence Rattigan em 1952, o diretor Terence Davies, estava disposto a explorar uma linguagem alternativa da maneira como o enredo da trama se desenvolve, e seus esforços são percebidos logo no início da projeção com um excepcional plano sequência, contudo apenas o anseio de inovação não basta para que uma proposta realmente criativa seja concretizada, e é essa impressão de apenas esforço que ficamos ao assistirmos Amor Profundo.

O filme se passa na Londres dos anos 50 e, num contexto de reconstrução da cidade no pós-guerra, acompanhamos o drama da bela personagem Hester Collyer (Rachel Weisz), uma mulher profunda e intensa, que abdica de um casamento seguro, porém apático e monótono, com um importante juiz do Estado, Sir William Collyer (Simon Russel Beale), para viver um romance inconstante, arrebatador e destrutivo, com o piloto da força aérea Freddie Pagge  (Tom Hiddleston), desequilibrado e imerso no período traumático de combate. Após uma tentativa de suicídio frustrada, em função de diversas decepções, Hester passa a se questionar quanto ao rumo que sua vida tomou, e um turbilhão de sentimentos e emoções passa a alimentar uma sucessão de relações conflituosas, situadas em um triângulo amoroso austero (ao mais tradicional padrão britânico).

Diversas tentativas para que a cadência do filme flua de maneira coesa passam a ser executadas, como a utilização da montagem não-linear desenvolvida no desenrolar da trama, para que as cenas se tornem mais dinâmicas e desafiadoras, no processo de percepção e entendimento. Ou a inserção de diálogos inflamados e verborrágicos, que buscam imprimir efeitos de intensidade e emoção. A trilha sonora, que vislumbra evocar impressões nostálgicas, e que, contudo, por diversos momentos acaba por se mostrar piegas e compassiva em demasia. E por fim, a incômoda insistência do diretor, no encalço de planos extremamente elaborados, que em determinados instantes até funcionam, vide planos sequências inicial e final, mas que quando se destaca uma visão geral, mostram-se forçados, invasivos e inorgânicos, dando até a infeliz impressão de compensação na fragilidade da capacidade de designar um controle pleno, no direcionamento coerente do roteiro.

As características positivas residem na fotografia perspicaz e eloqüente, ambientando o espectador de maneira sutil e agradável, na direção de arte aplicada e persuasiva, que convence e triunfa na imersão contextual da Londres dos anos 50, com figurinos, maquiagens e cenografia muito bem elaborados, meticulosamente direcionados e catalogados, compreendendo a especificidade dos diferentes períodos existentes no enredo. Além do elemento de maior destaque, que faz com que o filme evolua da condição de regular para bom; as antológicas atuações, com ênfase para a brilhante representação da talentosíssima Rachel Weisz, que possivelmente se superou, alcançando a melhor performance de sua carreira, o eficiente Tom Hiddleston que demonstrou desenvoltura e competência na composição de um personagem difícil, e ainda, Simon Russel Beale se apresentando de maneira eficiente, sem excessos, conciso e determinado.

Talvez a (excessiva) serenidade inglesa seja o principal fator que torne a evolução de um tema tão inquietante, como o que é proposto pelo enredo, engessado e artificial. E mesmo com o reconhecível, porém ineficaz, empenho do diretor Terence Davies para que a história fosse recepcionada de maneira aprazível pelo público, Amor Profundo não convence em sua proposta e se sustenta em aspectos artísticos para manter sua relevância.

 

Amor Profundo (7)Amor profundo (The Deep Blue Sea)

Ano: 2011

Diretor:  Terence Davies.

Roteiro: Terence Davies, Terence Rattigan.

Elenco Principal: Com: Rachel Weisz, Tom Hiddleston, Simon Russel Beale, Karl Johnson, Ann Mitchell, Sarah Kants, Harry Hadden-Paton.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: EUA/ Reino Unido.

 

 

 

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