Por Guilherme Franco

Mais do que apenas um gênero musical, o Axé é um movimento cultural que em seu início predominou na Bahia, mas logo foi se tornando maior e, de um momento para o outro, ocupou o país inteiro com sua energia.

Composto por cerca de 70 entrevistas com importantes nomes que fizeram a história nos trios elétricos de Salvador, o filme de Chico Kertész consegue, mesmo apoiando-se no modelo tradicional e clichê de documentário (talking-heads¹ e imagens de arquivo), evocar a fascinação que essa música, predominante no carnaval, causa nas pessoas. A estrutura vai se montando fora de uma cronologia, indo e voltando de acordo com os artistas retratados. Esses que determinam a ordem da narrativa e reconstroem o que foi o Axé, começando com Luiz Caldas (um dos precursores) e até figuras que se destacam ainda hoje como Ivete Sangalo, Saulo e Psirico.

Ao assistir, fui lembrando de partes da minha infância, fevereiros e marços dos anos 90, indo para a praia todo ano muitas vezes escutando Araketu, Terra Samba. Como ouvia Netinho e Banda Eva no aparelho de som da sala, ou até mesmo É o Tchan (que antes era Gerasamba) nos aniversários, com todos inocentemente dançando na “boquinha da garrafa”, vivendo em meio ao não politicamente correto, e até mesmo os meus carnavais pulando com Chiclete com Banana. O trabalho de pesquisa realizado é uma das qualidades do documentário. Além do principal, que é resgatar os nomes, também deixa o espectador conhecer importantes histórias esquecidas dessa contracultura, que depois se tornou popular. Por exemplo, o show que parou a Paulista em 1992 com mais de 20 mil pessoas pulando no vão do MASP, Paul Simon com Olodum no Central Park, os Trios na Europa, etc.

O filme destaca nomes que foram importantíssimos, mas que por questões comerciais ou burocráticas não chegam ao grande público viralmente. Por exemplo Wesley Rangel, da WR Estúdios (falecido em janeiro de 2016), que é uma das poucas entrevistas que permanece durante o filme inteiro, quase que guiando quais serão os próximos músicos a aparecer na tela. Chegando ao fim, a estrutura adotada para narra a história vai cansando, com a inserção de outra questão: a crise/decadência do gênero musical. Ao contrário da maior parte da obra, essa visão crítica é apenas exposta e não aprofundada, mas se tomarmos como principal propósito o documentário contar o que é/foi e artistas do movimento, isso não desmerece a composição geral.

Axé – Canto do povo de um Lugar invoca e reforça a brasilidade e união tão necessária no momento atual do país. Mostra curiosidades e acontecimentos peculiares ao movimento e paralelos, como o poder comunicativo de massa do Chacrinha de impulsionar carreiras. “Axé” também significa uma interjeição de felicidade, e assim como um dos seus significados, o filme consegue arrepiar, trazer muitas lembranças antigas e a veia romântica e alto-astral do carnaval.

¹pessoas falando em um plano fixo diante as câmeras como se fossem “cabeças-falantes”

²imagens de apoio para utilização na montagem, sem ser o entrevistado falando, não o principal foco do vídeo

AxéAxé: Canto do Povo de um Lugar

Ano: 2017

Direção: Chico Kertész

Roteiro: Chico Kertész

Elenco Principal: Daniela Mercury, Caetano Veloso, Gilberto Gil

Gênero: documentário

Nacionalidade: Brasil

 

 

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