Por Lívia Fioretti
Em maio de 2013, na França, ocorreu uma das maiores e mais violentas manifestações contra o casamento de pessoas do mesmo sexo graças a lei que fora aprovada em uma terça-feira, por meio da qual a união se tornou legalizada. Na sexta-feira da mesma semana, o filme Azul é a Cor mais Quente (La Vie d’Adèle) recebeu o Palma de Ouro em Cannes.
O trabalho é uma livre adaptação das histórias em quadrinhos desenhadas e escritas por Julie Maroh, publicadas em 2010. Dirigido pelo franco-tunisiano Abdellatif Kechiche, o filme se passa em uma pequena cidade do interior da França e narra a descoberta sexual de Adèle (Adèle Exarchopoulos), uma jovem de 15 anos que se apaixona pela moça de cabelos azuis Emma (Léa Seydoux).
O filme de 2 horas e 55 minutos narra o cotidiano de Adèle por meio de uma câmera consideravelmente invasiva que mostra a jovem dormindo, comendo, pegando o ônibus, conversando com suas amigas, tendo sonhos eróticos. O espectador é inserido na rotina da protagonista de forma lenta e contínua, sendo tal intimidade e confiança potencializadas conforme a trama se desenrola. Passamos a entender o que se passa na cabeça da protagonista conforme seus medos, tabus e angústias vão sendo testados por suas tentativas de relação com o sexo oposto, enquanto sua coragem é posta à prova conforme vai experimentando sua sexualidade baseado no que sente por outras mulheres. Uma cena fundamental – e construída de forma sublime – é a em que Adèle é confrontada por uma amiga quanto a sua sexualidade, e a explosão que vem em seguida.
Acima de qualquer paradigma, o filme é uma história de amor. Algo predestinado graças a um olhar inesperado trocado no meio da rua, fazendo com que a moça de cabelos azuis invada permanentemente os pensamentos e fantasias eróticas de Adèle. A partir do reencontro das jovens desenrola-se um sentimento natural, que é delicado e avassalador ao mesmo tempo, demonstrando claramente a tensão causada pelo desejo sentido por ambas a medida em que vão se apaixonando.
Os diálogos são longos e trabalhados, servindo para enfatizar ainda mais a cumplicidade entre as companheiras. A disparidade entre elas é outro assunto muito abordado: enquanto Emma é artista plástica, criada com fortes influências culturais e tem como política viver sua sexualidade livremente entre seus amigos e família, Adèle sonha em ser professora primária, possui como repertório aquilo que lhe foi transmitido pela sociedade e prefere manter sua vida íntima em particular.
Além da expectativa gerada por um vencedor da Palma de Ouro, o filme tem chamado muita atenção (positiva e negativamente) pelas cenas de sexo explícito. É importante entender que os seis minutos de relação entre o casal possui muito mais do que conotação sexual, é uma forma de elevação e de concretização dos desejos de uma menina (e a prova de extrema coragem por parte das atrizes, diga-se de passagem). Após o lançamento do filme, houveram diversas discussões entre Léa Seydoux e o diretor, envolvendo a exigência nos bastidores e até mesmo a produção da polêmica cena já citada.
Acima de qualquer coisa, o elenco declarou esperar que o filme sirva como mais uma contribuição para o debate sobre o casamento gay no mundo. “É um filme universal, uma história de amor, fala sobre sentimentos. Não importa que sejam duas mulheres. Mas se ajudar a aumentar a tolerância entre as pessoas, certamente será gratificante”, declarou a atriz Adèle Exarchopoulos.
Leia o post sobre a coletiva de imprensa com o diretor e elenco do filme AQUI.
Azul é a Cor Mais Quente (La vie d’Adèle)
Ano: 2013.
Direção: Abdellatif Kechiche.
Roteiro: Abdellatif Kechiche e Ghalia Lacroix. (Adaptado da HQ “Le bleu est une couleur chaude”, de Julie Maroh)
Elenco principal: Léa Seydoux, Adèle Exarchopoulos, Salim Kechiouche, Jérémie Laheurte, Catherine Salée.
Gênero: Drama, Romance.
Nacionalidade: França.
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