Por Ana Carolina Diederichsen

Andrea é um típico metrossexual: um quarentão estereotipado que se preocupa muito com seu visual. Já nas primeiras cenas do longa italiano, isso se evidencia. Numa sequência de cortes rápidos, Andrea troca de roupa algumas vezes, experimenta sapatos diferentes, ajeita o cabelo (chegando a cobrir os fios brancos com um rímel) e passa maquiagem para disfarçar olheiras e eventuais imperfeições. Isso tudo numa pele alaranjada, nitidamente obtida à custa de muito bronzeamento artificial. Essa, inclusive, é uma palavra que define bem Andrea: artificial.

Com seu carro conversível de luxo, ele dirige pelas ruas como quem se sente dono delas. Muito competente em sua profissão, Andrea (Raoul Bova), trabalha numa grande empresa publicitária e tem por função inserir merchandisings em filmes. Mora com seu amigo Paolo, interpretado por Edoardo Leo, também diretor do filme, numa bela (e impessoal) casa de condomínio. Paolo se mudou para a casa do amigo de longa data, após perder o emprego e desde então tenta novas vagas, mas Andrea, sempre o subestimando, o desencoraja de todas as tentativas.

Perfeito garanhão que é, Andrea se aproveita do acesso que tem ao mercado cinematográfico para seduzir garotas em busca de fama. A cada dia está com uma nova linda mulher, mas nunca se apaixona por nenhuma delas. Tanto que nem se lembra da maioria das mulheres com quem já ficou.

Em seu apartamento, um letreiro em neon, destacado pela decoração minimalista, define muito de sua personalidade egocêntrica. A mensagem diz: “I am mine”, numa nítida alusão à musica de mesmo nome do Pearl Jam. De imediato, Andrea, e tudo ao seu entorno, reforça a ideia de o publicitário que é dono do seu próprio nariz e ninguém tem nada a ver com isso.

Esse panorama parece manter-se estável já há alguns anos, até que Layla, uma garota de 17 anos com um visual rebelde e marcante, bate à sua porta alegando ser sua filha. Inicialmente atônito, ele rejeita qualquer possibilidade de ser pai, mas Paolo (aparentemente empolgado com a novidade) o convence a realizar o teste de DNA para sanar qualquer dúvida.

Layla perdeu a mãe há 3 meses e desde então mora com o avô, Enzo, interpretado pelo ótimo Marco Giallini, um roqueiro de relativo sucesso no passado, mas que já caiu no ostracismo. Avô e neta tem o plano de viajar juntos pela Itália em seu querido (e velho) trailer, admirando e fotografando belas paisagens. O hobby de Layla é a fotografia analógica e isso é bem marcado em algumas cenas no decorrer do filme. Na mesma época em que o resultado do teste confirma a paternidade, o trailer de Enzo quebra, e eles, sem ter onde ficar mudam-se temporariamente para a casa de Andrea. Essa mudança gera reflexos significativos na rotina do solteirão, que ao mesmo tempo em que tenta se adaptar à ideia de ser pai, tem que lidar com a separação de seus próprios pais.

Andrea não se preocupa em se aproximar da garota, mas assume as responsabilidades de pai, matriculando-a numa escola. Layla passa a ter problemas de adaptação e conta com a ajuda de uma professora de ginástica, que, relutante, acaba se aproximando também do pai da nova aluna.  Enquanto isso, Paolo vai criando uma relação de amizade com sua “sobrinha de criação” e tenta, discretamente, aproximar pai e filha. Em função dos novos desafios e compromissos familiares, Andrea acaba não se dedicando totalmente ao trabalho, e seu chefe o afasta até que ele tenha condições de voltar.

Somente quando sua vida sai totalmente dos trilhos, ele se vê forçado a rever sua posição no mundo, e para isso, o primeiro passo é se entender com sua filha. Layla, que a essa altura já criou um distanciamento considerável, também não parece disposta a se aproximar do pai, mas com as interferências de Enzo e Paolo, ambos acabam cedendo. A conciliação se dá em uma bela cena em plano-sequência em que Layla, num ímpeto raivoso, foge correndo do pai e ele a segue, até que em determinado ponto, os dois se encontram. Esse encontro é dotado de significados metafóricos. Além de um encontro físico, ocorre o encontro emocional. É a partir daquele instante que eles decidem parar de fugir um do outro e se abrem para se conhecerem de verdade.

Essa é uma comédia, com pitadas de drama que não apresenta nenhuma novidade significativa. A história se parece com tantas outras que já conhecemos, mas aqui, há o diferencial de personagens divertidos e queridos, que dá força extra ao filme. No fundo, é mais um filme sobre aquela velha máxima que diz que, às vezes, você precisa se perder para se encontrar.

Cinemascope - Buongiorno papa posterBuongiorno Papá

Ano: 2013

Direção: Edoardo Leo

Roteiro: Massimiliano Bruno, Edoardo Leo, Herbert Simone Paragnani.

Elenco principal: Raoul Bova, Antonino Bruschetta, Giorgio Colangeli.

Gênero: Comédia, Drama.

Nacionalidade: Itália

Veja o trailer:

Galeria de Fotos: