Ana Carolina Diederichsen
A mais nova empreitada de George Clooney no cinema é a adaptação do livro homônimo de Robert M. Edsel e Bret Witter, baseado em fatos reais. Com um elenco estelar, Caçadores de Obras Primas, conta a inusitada história de um batalhão especial do exército americano durante a Segunda Guerra Mundial, composto por soldados incomuns. Eles tinham o propósito exclusivo de encontrar, catalogar e proteger obras de arte saqueadas pelos nazistas durante sua expansão pela Europa.
É um filme que foge do comum, apesar de versar sobre um tema já muito batido pelo cinema, por dois motivos: o primeiro é o recorte temático cultural muito específico e, eu ouso dizer, com um viés inédito, ao menos para o grande cinema comercial; e o segundo, é o toque de humor irônico e leve, sempre em contraste com as mazelas da guerra e suas incoerências latentes que todos os espectadores já conhecem de filmes que o precedem.
O cartaz do filme, que lembra o de Bastardos Inglórios, já dá o tom do longa. Longe de trazer a ironia ácida do colega Tarantino, Clooney versa sobre o mesmo conturbado período histórico com um toque de leveza. Esse é, inclusive, o principal mérito do filme: sua capacidade de dosar cenas delicadas e emocionantes sem cair nos clichês do dramalhão desnecessário, equilibrando-as com momentos espirituosos e divertidos.
As cenas que envolvem a seleção do batalhão são um exemplo nítido disso. Elas resgatam o espírito aventuresco de “team work” que está presente também na franquia de Onze Homens e um Segredo. Os “monuments men” (do título original) são artistas, marchands, restauradores e afins, sem qualquer experiência belicosa. Todos estão, ou já passaram pela meia idade, motivo pelo qual não foram convocados anteriormente para lutar na guerra. A reunião não convencional desses tipos cultos, eloquentes e desengonçados, além de egocêntricos, confere ao filme alto teor de humor. O longa é um daqueles bons e velhos filmes divertidos, que inspiram e emocionam.
A fotografia é bonita e a arte, precisa. O humor, aplicado na medida certa, é destacado pela deliciosa música de Alexandre Desplat, que apesar de não ter movimentos de beleza ímpar, casa perfeitamente com o propósito do filme. Ao reforçar as emoções que o longa desperta, cumpre com maestria o papel de uma trilha sonora, como poucas o conseguem fazer.
Em uma cena forte do filme, Frank Sotokes (Clooney), o idealizador do batalhão, resume a importância de sua missão: em um breve discurso ele diz que salvar uma vida humana é inestimável. Mas perpetuar sua história e cultura, anos após sua inevitável morte, confere o mínimo de imortalidade aos que construíram as bases da sociedade cuja preservação é o que justifica a guerra. Essa fala, de elevado potencial dramático, é dita de maneira leve e informal, numa conversa entre amigos, conferindo ainda mais valor ao que é dito.
Preciso abrir um parêntese, que talvez justifique o motivo pelo qual esse filme me agradou tanto: sou apaixonada por arte em todas as suas formas e expressões. Além disso, gosto do ar de “caça ao tesouro” e a guerra sempre me fascinou. A cada quadro, igreja, monumento ou vida salvos, uma parte de mim se alegrava, bem como o oposto. O filme apresentou uma realidade, até então desconhecida, em torno de significativas obras de arte e do trajeto nebuloso por elas percorrido para que pudessem, hoje, serem admiradas por mim e tantos outros. É claro que o filme fantasia as ações, simplifica situações, e condensa acontecimentos ao apontar que o registro de tantas obras só se fez capaz pelo esforço conjunto desses homens, mas o que seria do cinema sem um pouco de fantasia?
Caçadores de Obras-Primas é um filme sobre a guerra, mas não se classifica como “um filme de guerra”. Ele obviamente não passa batido pelas perdas de vidas humanas, e o faz de maneira sempre presente e muito delicada, mas entende que esse tema já foi exaustivamente abordado por filmes de competência inquestionável. A opção acertada de contar essa história colocando seu foco nas perdas culturais que provém da guerra aponta um aspecto até então adormecido e propõe despertá-lo em nós. Além disso, o elenco por si só já é motivo mais do que suficiente para colocar esse filme no hall dos imperdíveis.
Caçadores de Obras-Primas (The Monuments Men)
Ano: 2014
Diretor: George Clooney
Roteiro: George Clooney, Grant Heslov
Elenco Principal: George Clooney, Matt Damon, Bill Murray, Cate Blanchett, John Goodman, Jean Dujardin, Hugh Bonneville, Bob Balaban.
Gênero: Comédia/Drama
Nacionalidade: EUA/ Alemanha
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