Caminhos Magnétykos conta a história de Raymon (Dominique Pinon) que vive com sua esposa e filha em Portugal. O local está prestes a ser tomado por um regime autoritário e em meio a esse cenário de drones, sátiras a Trump e seitas religiosas, o protagonista se arrepende durante a cerimônia de casamento de sua filha de ter concordado com essa união – coisa que antes ele só apoiou pensando na questão financeira. Após brigar no casamento de Catarin, sua filha, e o rico Damião, Raymond sai às ruas de Lisboa para viver estranhas e perigosas aventuras nesse ambiente futurista prestes a ser tomado por uma ditadura.
Um filme que trata de política e questões sociais por meio de linguagem e, acima disto, o diálogo da poesia com metáforas visuais. O estilo de Edgar Pêra, que vem desde seus trabalhos com Jean-Luc Godard, pode estranhar ou até cansar ao espectador desavisado que chega esperando mais do mesmo, mas também pode surpreender a quem vem de peito aberto para entrar na viagem sensorial do realizador português. Abusando das luzes e ressignificando o neon, com fortes azuis, verdes e rosas avermelhados, a marca do filme são as sobreposições visuais que em certo momento se tornam demasiadas sem dar um descanso aos olhos de quem assiste. Além da câmara sempre centralizada, colocando os personagens em xeque e os prendendo no plano narrativo. Os efeitos sonoros mixados à trilha do filme criam um grande universo fantástico para a obra. O longa conta ainda com a música de Manuel Oliveira, deixando tudo poético e estranhamente equilibrado com as atuações e o teor de humor plástico e de crítica social do filme.
Assim como o recente Diamantino (Daniel Schimidt e Gabriel Abrantes, 2018), a obra traz um diálogo acerca da situação político-social de Portugal. Não somente uma fantasia ou um romance, o longa entra para o grupo de filmes que permite entender e questionar o papel do país na Comunidade Europeia. Uma ditadura tecnológica e futurista que com tons de sarcasmo, contagia a quem assiste com o discreto, mas afiado humor português.
Um grande ponto do filme para nós, espectadores brasileiros, é a participação de Ney Matogrosso que engrandece a obra com sua virtuosidade e excentricidade. Ele aparece como o personagem André, liderando um culto religioso. E é por ele que o protagonista vai se perguntar e começar a questionar seu eu. Com André afirmando que “dinheiro não é tudo” e depois fazendo Raymond repensar seu passado e futuro, a trama vai se desenrolando.
Caminhos Magnétykos pode parecer até certo ponto fechado, mas traz um questionamento existencial muito comum para a maioria das pessoas, sobre dinheiro, amor, família e a razão de viver.
*este texto faz parte da cobertura do Cinemascope na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo