Por Wallacy Silva
Celeste e Jesse Para Sempre começa com um pequeno clipe no qual são mostrados momentos marcantes do casal. Mas eles não estão mais “juntos”. Entre aspas porque, apesar de terem decidido o divórcio, eles continuam se vendo diariamente, saindo como um casal e até dizem “eu te amo” um para o outro. Celeste (Rashida Jones, A Rede Social) terminou o relacionamento. Bem sucedida profissionalmente, ela acha que tomou a atitude certa, pois o ex parece não amadurecer nunca, não conseguir ter foco para um eventual êxito profissional, consequentemente não conseguindo tornar-se um bom pai para seus filhos. Jesse (Andy Samberg, Saturday Night Live) se acomodou com a situação e se mantém próximo de Celeste na esperança de que ela perceba que eles são feitos um para o outro, e de que eles voltem. Os amigos não se conformam com os dois e clamam pelo fim da inusitada relação “pós-divórcio”.
Inicialmente o longa causa um enorme estranhamento. A relação entre Celeste e Jesse assemelha-se a de dois amigos ou irmãos, discutindo e dando risada juntos. A sensação é de que estamos diante de algum besteirol, muito mais “comédia” do que “romântica”. Passado algum tempo a relação começa a parecer maternal: Celeste vive cobrando Jesse, e quando ele consegue um encontro com outra garota ela até diz que “está orgulhosa dele”. Mas finalmente a química entre os dois surge, a história ganha muito em carga dramática, e os atores se mostram capazes de grandes performances.
O fato é que Jesse precisa encontrar uma pessoa que faça com que ele se sinta bem, que o apoie ao invés de apenas cobrá-lo e subestimá-lo constantemente. Ele decide seguir o próprio caminho e Celeste passa a sentir falta dele, ao mesmo tempo tentando se enganar e fingindo que está tudo bem. A personagem se julga autossuficiente e se acha melhor do que qualquer um. Em seus diálogos com o colega de trabalho Scott (Elijah Wood) ela fala que tem um encontro e que vai “ser admirada” ou mesmo que os filhos que ela terá “precisam de um pai que tenha carro”. É engraçada a cena em que ela vai à livraria para promover o próprio livro (chamado “Shitgeist”). Um de seus pretendentes, Paul (Chris Messina), alerta para a diferença entre “fazer a coisa certa” e “ser feliz”, dando uma das chaves para que Celeste pare um pouco de ser tão racional. Sem motivo aparente ou grande epifania, Celeste percebe que sim, está arrependida do que fez com Jesse.
Apesar dos pesares, o roteiro é bom, na medida em que consegue apresentar os personagens através de situações corriqueiras, e do mesmo modo produzir humor. Porém é difícil falar que há uma perspectiva realista de um relacionamento a partir de uma premissa tão estranha (ou você conhece pessoas casadas que decidiram se divorciar e continuaram andando juntinhas por aí?). A direção não inventa, e é legal observar como a câmera fala ao se aproximar dos personagens nas cenas em que as sensações de claustrofobia ou sensibilidade são atenuadas.
No final, percebemos que o filme é muito menos sobre as dificuldades de relacionamento de um casal, e mais sobre o crescimento pessoal de Celeste, que passa a enxergar o mundo de forma distinta. Seu relacionamento com a estrela pop Riley (Emma Roberts) muda radicalmente, ela consegue consertar o erro esdrúxulo cometido na campanha publicitária da cantora, sua opinião sobre um velho edifício é outra, ela aparentemente deixa de ser levada pelo seu pré-julgamento das pessoas… A metáfora das filas é outra grande jogada do roteiro que deixa isso bem claro para o espectador. Celeste encara três filas durante a história: na primeira, em um café, um rapaz fura a fila, e ela imediatamente chama a atenção dele, faz um discurso moralista, diz que o tempo dele não é mais importante que o tempo dos outros, etc.; na segunda, em uma lavanderia, ela está atrasada para o casamento da melhor amiga, Beth (Ari Graynor), e então se coloca na posição de “furona”, mas pedindo gentilmente a todos que estão na fila para que lhe cedam o lugar; na terceira, novamente em um café, um rapaz passa rapidamente na frente dela para ser atendido, ela chega a chamá-lo, mas hesita, e deixa pra lá. No final ela não é mais tão chata ou preciosista. Celeste já não é mais a mesma do início do filme. E a história que acompanhamos em Celeste e Jesse Para Sempre é um episódio fundamental para seu processo de amadurecimento.
Celeste e Jesse para sempre (Celeste and Jesse Forever)
Ano: 2012
Diretor: Lee Toland Krieger.
Roteiro: Rashida Jones e Will McCormack.
Elenco Principal: Andy Samberg, Rashida Jones, Elijah Wood, Ari Graynor, Eric Christian Olsen.
Gênero: Comédia.
Nacionalidade: EUA.
Veja o Trailer:
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