Um retrato da Europa atual e a relação com imigrantes: isso é o que traz o filme da alemã Franziska Hoenisch. Inicialmente, a obra é um filme televisivo, mas tirando o ponto de que foi produzido pela ZDF (Zweites Deutsches Fernsehen), uma das TVs públicas alemãs, a obra tem grande teor cinematográfico.
Club Europa
Franziska traz um grande diálogo, em especial com o público europeu. O longa conta com vários idiomas, indo do alemão, passando pelo francês e inglês até algumas poucas falas do personagem Samuel em uma das muitas língua de Camarões. Daí o título Club Europa, uma metáfora sobre como os países subdesenvolvidos e em situação de risco estão sempre a mercê da Europa e dos Estados Unidos, tudo em um grande jogo de poder envolvendo a ideia de passar uma imagem humanitária quando, no fundo,se trata do próprio ego (ou também de como esquecemos as coisas muito rápido).
Lembram-se do caso do menino sírio morto encontrado morto na praia em 2015? Ano passado o Papa inaugurou uma estátua dele como símbolo da crise migratória, uma pena que estátuas, ou monumentos, não mudam diretamente um contexto político-social ou trazem de volta todo o sofrimento e dor que são vividos diariamente. Não somente esse, mas inúmeros outros casos, como o da jornalista da emissora Húngara N1TV que passou uma rasteira em um refugiado que corria da polícia com uma criança no colo. A lista é longa. Inclusive o próprio cinema já retratou o tema várias vezes como em Fogo no Mar, Gianfranco Rossi (2016), Hotel Rwanda, Terry George (2004), Incêndios, Denis Villeneuve (2010), Terraferma, Emanuele Crialese (2011), entre outros.
A imigração é uma questão que sempre foi problemática para o continente Europeu com povos lutando para conquistar ou roubar novos territórios ou renegando ajuda para outros necessitados. Apesar deste ser o ponto principal da trama, o tema que a obra trabalha e faz um bom estudo de caso é a empatia. Acima de contextos políticos, sociais e tudo o que está envolvido, somos seres humanos, e esse é o ponto principal da obra: analisar as relações interpessoais acima de toda a narrativa. Alguns personagens se perdem e até falta um pouco mais de aprofundamento, tensão e crises, mas mesmo assim é posto um bom jogo de cena entre eles.
Um dos grandes méritos do longa é estabelecer diálogos dinâmicos com os conflitos cotidianos – a a maior parte do filme se passa dentro da casa dos três personagens, uma francesa, uma alemã e um americano que recebem o camaronês Samuel que vem meio que ilegalmente para morar e trabalhar na Alemanha. A obra é um claro retrato de como muitos jovens europeus e não europeus pensam a questão da imigração, tentando passar uma imagem boa e de ajuda, mas tudo tem seus limites, inclusive isso até atingir pontos de hipocrisia. Após a exibição do filme no festival, a diretora contou sobre o processo de criação dos diálogos e dos personagens e explicou que não seguia o script linha a linha, mas os atores tinham a liberdade para criar e realmente sentir e externalizar seus respectivos personagens.
Club Europa é o impulso para um diálogo que já é a muito tempo necessário, não somente na Europa, mas também no Brasil e em todos os países. Um início para entendermos não somente políticas migratórias, leis e história, mas também para questionar o real sentido do ser humano, do pertencer a algo.
*este post faz parte da cobertura da 14ª edição do FEST – New Directors New Films Festival