De menor

Por Luciana Ramos

Simbólico e de ritmo lento, De Menor marca o longa de estreia de Caru Alves de Souza, sócia de Tatá Amaral e co-fundadora da Tangerina Entretenimento. Utilizando um tema recorrente da sociedade brasileira como embasamento da história, o menor infrator, ela dialoga sobre o quanto o posicionamento crítico acerca de uma realidade externa pode ser acompanhado de uma certa “cegueira” em observar os mesmos padrões de comportamento no nosso ambiente íntimo.

Helena (Rita Batata) é uma jovem defensora pública que trabalha no fórum de Santos. Como tal, destina a sua profissão a ajudar menores de idade que cometeram delitos a serem julgados de maneira correta. Ela luta pela reinserção dos mesmos na sociedade, atentando que a internação destes garotos muitas vezes não contribui para a sua melhora.

Na vida familiar, possui uma convivência harmônica com o seu irmão mais novo, o adolescente Caio (Giovanni Gallo), de quem possui a guarda. Bondosa e determinada em ajudar os garotos no seu trabalho, acaba ignorando os sintomas de que o seu próprio irmão está trilhando o mesmo caminho de recorrentes delitos até que recebe um choque de realidade.

Ao contrário do que se espera de uma história com tamanho peso dramático, De Menor é lentamente construído e não oferece grandes picos, no sentido de que é pautado no simbolismo e, em muitas cenas, no silêncio.

O conflito da protagonista é mostrado através das reações propositalmente contidas da atriz, uso da música, planos fluidos que acompanham as suas ações. É importante, do mesmo modo, o lugar escolhido para o desenrolar da trama. A cidade de Santos permite a criação de um universo menor e, portanto, de maior proximidade entre o juiz, promotor e defensora e, do outro lado, dos menores julgados, o que permite um maior aprofundamento dramático.

Ao mesmo tempo, são inseridas cenas na praia da cidade que atuam como reflexos do interior de Helena, em especial no momento em que seus pés firmados na areia são arrebatados por ondas revoltas, uma construção claramente simbólica.

Portanto, trata-se de um filme que não se apressa nem pretende esgotar um tema ou até mesmo impor um ponto de vista. Bastante lento e sempre “quase” explosivo sem nunca sê-lo, possui um final um tanto aberto, o que é bastante interessante por ser diferente do comum, mas também acarreta na perda do seu impacto.

Assim, as características positivas do longa o tornam do mesmo modo apreciável, mas não imponente. Não deixa, no entanto, de ser relevante, em especial pelo modo com que discute o sistema judicial do Brasil no tratamento dos menores infratores.

Em suma, atesta o talento da cineasta Caru Alves de Souza em tecer uma trama que consegue prender a atenção e sensibilizar o espectador.

De Menor