Família do Bagulho

Por Frederico Cabala

O título, muito a cara da Sessão da Tarde, pode causar má impressão no espectador. Mas o filme supera dignamente o trocadilho que, no mínimo, divide opiniões. Confesso que fui assistir ao longa esperando uma coleção de piadas sem graça e expressões forçadas, porém o resultado foi bastante surpreendente.

Com elenco forte e ligado, humor despretensioso que funciona e cenas memoráveis (inclusive nos extras!), Família do Bagulho cumpre seu papel enquanto comédia que prende atenção, faz rir e entretém.

David (Jason Sudeikis) é um pequeno traficante de maconha e tem a chance de fazer muito dinheiro quando recebe a missão de transportar do México aos EUA duas toneladas da droga. Para atravessar a fronteira sem despertar suspeitas, ele bola o fantástico plano de fazer uma família fake e se passar por gringo com cara de bobo e inocente. David convence a stripper Rose (Jennifer Aniston) a ser sua mulher de mentirinha e os jovens Kenny (Will Poulter) e Casey (Emma Roberts) a participarem da tarefa como filhos. Assim, eles se tornam os Millers.

O mérito do roteiro — assinado por Bob Fisher e Steve Faber (ambos de Penetras Bons de Bico, de 2005) mais Sean Anders e John Morris — consiste em colocar o filme além da sinopse. Família do Bagulho se torna interessante não pela história esperada de um contrabando através da fronteira, mas tem como fator mais agradável principalmente o desenvolvimento da própria família fake. De desconhecidos que não se dão nada bem, aos poucos os Millers percebem que funcionam melhor que muita família verdadeira e com isso o filme ganha envolvimento. Fazendo passar quase despercebido, inclusive, algumas falhas grosseiras do longa, como a cena em que a van dos Millers é rebocada e se guia praticamente sozinha.

Os atores contracenam de maneira bem afinada. Principalmente Sudeikis e Aniston (ela brilhando também em sensualidade), que já estiveram juntos em Quero Matar Meu Chefe (2011). Ambos convencem na transformação dos personagens do casal Miller.

Rawson Marshall Thurber assina seu terceiro longa. Tem no currículo também a comédia quase pastelão Com a Bola Toda (2004). Aqui, em Família do Bagulho, ele continua alinhado ao humor bastante escrachado, mas o faz a partir de um trabalho mais seguro e leve. Ao dar grande espaço e explorar a singularidade de cada um dos personagens em vez de se ater ao puramente cômico, Thurber cria um filme mais próximo e com mais tons de emoção, que cativa e fica na cabeça mesmo após o filme acabar.