Por Luciana Ramos

Cínico, afiado, dramático, cheio de reviravoltas. Todas estas características são próprias do novo filme de David Fincher (Seven; O Curioso caso de Benjamin Button). Adaptado para os cinemas pela própria autora da história, Gillian Flynn, o longa preserva o estilo narrativo do livro e marca a primeira parceria entre os dois, que já anunciaram a criação da série Utopia, produzida pela HBO.

No aniversário de cinco anos de casamento de Nick (Ben Affleck) e Amy Dunne (Rosamund Pike), ela desaparece sem deixar suspeitas. Então, a pequena cidade de North Carthage une-se para resgatar aquela que parece ser o ideal da mulher perfeita, a encarnação viva de Amy exemplar, série de livros infantis que seus pais escreveram baseando-se na sua personalidade.

Em meio as investigações, a inadequação social do marido, demonstrada pela falta de emoção e excesso de sorrisos, aliada a uma cena de crime quase perfeita, apontam gradualmente a culpa para Nick. Então, ele deve lutar para reafirmar a sua inocência e encontrar a sua mulher enquanto ainda é tempo.

Como na obra literária, os eventos são apresentados em dois tempos diferentes: a perspectiva de Nick expõe os acontecimentos do presente, ou os dias que se seguem ao desaparecimento e, em contraponto, cenas que elucidam eventos passados revelam o ponto de vista da esposa sobre a vida do casal.

Assim, somos levados a fundo sobre os costumes, conflitos e pequenos símbolos que compõem a vida a dois de Nick e Amy à medida em que a trama principal se desenrola. Essa dinâmica segue até cerca da metade do filme, quando uma grande reviravolta muda o tom da história e origina vários pequenos pontos de virada.

Assim, pode-se afirmar que o longa é bastante eficaz em prender a atenção do espectador, todo o tempo provocado pelo alto teor de cinismo do roteiro. Aos diálogos são extremamente irônicos e inteligentes somam-se as ótimas atuações de Ben Affleck, que consegue incorporar perfeitamente a maneira como Nick Dunne é descrito no livro, e, em especial, Rosamund Pike, cuja interpretação define Garota Exemplar como um filme que deve ser visto.

As qualidades individuais e narrativas unem-se à maestria e precisão da direção de David Fincher, que acentua o tom de suspense com movimentações lentas de câmera e ajuda assim a revelar aquilo que foi ocultado.

Como contraponto, tem-se o alongamento excessivo da trama, cuja duração aproxima-se de duas horas e meia, tornando-se exaustivo em alguns momentos, muito por conta da escolha da autora em adaptar todos os eventos relatados na obra original. Porém, esta sensação é neutralizada pelos inúmeros pontos de virada, já citados, que a todo tempo instigam o espectador a refletir sobre o que é apresentado.

Por todas as razões elucidadas acima, Garota Exemplar revela-se um filme excelente, que tem como principal qualidade o fato de deixar o público remexendo-se em sua poltrona, sempre atento e divertindo-se com os dramas do disfuncional casal Dunne.

 

Cinemascope - Garota exemplar posterGarota Exemplar (Gone Girl)

Ano: 2014

Diretor: David Fincher

Roteiro: Gillian Flynn

Elenco Principal: Ben Affleck, Rosamund Pike, Tyler Perry, Neil Patrick Harris.

Gênero: drama, suspense

Nacionalidade: EUA

 

 

 

 

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