Por Ana Carolina Diederichsen
Há tempos um personagem tão ilustre da história nacional merecia um filme. Na verdade, sua vida é tão intrigante e seus feitos políticos são responsáveis por transformações tão fundamentais, que ele merecia uma série de filmes. Reduzir um personagem do calibre de Getúlio Vargas a um filme é tarefa quase impossível e muito arriscada.
João Jardim, documentarista celebrado pela codireção dos premiados Janela da alma (2001, com Walter Carvalho) e Lixo extraordinário (2010, com Lucy Walker e Karen Harley), assumiu esse risco. Para viabilizar a história, foi importante determinar um recorte temporal. Os 19 dias que separaram o atentado da Rua Tonelero, matéria obrigatória em todas as escolas, da morte de Getúlio são retratados no longa. Ao abordar apenas os últimos dias de vida do presidente icônico, o filme restringe seu potencial dramático.
O atendado, supostamente comandado pelo chefe da guarda pessoal de Getúlio, Gregório Fortunato (Thiago Justino), atingiu o principal oponente político do presidente, o jornalista Carlos Lacerda (interpretado pelo competente Alexandre Borges), e vitimou o major Rubens Vaz. Em função do alvo principal ser declaradamente opositor do ex-ditador, as desconfianças recaíram em cima de Vargas. E assim foi aceso o estopim de um intrincado jogo de interesses nos mais altos escalões do poder.
Trata-se de um filme político, mas sem uma agenda. Mostra os bastidores que levaram à queda e culminou com o mais político de todos os atos do então presidente, seu suicídio. Tão racional que a célebre carta de despedida, que o fez “sair da vida e entrar para a história”, foi escrita por seu preparador de discursos, como o filme curiosamente mostra. Entretanto, a trama tem muitos personagens tornando todo o processo muito confuso. Sem a devida contextualização, faz-se necessário um background histórico para acompanhar o thriller político.
Temos em cena um protagonista vivido pelo canastrão Tony Ramos. Com caracterização que o deixou 30 Kg mais gordo, ele não tem sotaque (Vargas era gaúcho), mantém-se quase calado, discreto, mas sua postura demonstra que está no controle. Já Drica Morais (ótima) vive a quase onipresente filha de Getúlio, cuja importância ultrapassa os limites do pessoal e a coloca na linha de frente.
A direção de arte se supera a cada instante (apesar de raras e insignificantes escorregadas), trazendo em cena, inclusive, a própria arma que tirou a vida de Getúlio. Rodado no Palácio do Catete, as tomadas são enriquecidas por uma iluminação dramática. A câmera, sempre espreitando as ações, às vezes se perde no foco seletivo. Ainda assim, o visual é bonito e corrobora com o momento delicadamente tenso.
Não é um filme incrível e fica aquém do grande personagem que tenta retratar. Mas é competente o suficiente para que seja quase obrigatório aos brasileiros.
Ano: 2014
Diretor: João Jardim
Roteiro: João Jardim, George Moura
Elenco Principal: Tony Ramos, Alexandre Borges, Drica Moraes
Gênero: Biografia / Drama
Nacionalidade: Brasil
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