Por Luciana Ramos

Jogo de Xadrez, que entra em cartaz nesta semana em circuito nacional, marca a estreia de Luís Antônio Pereira na direção. Igualmente responsável pelo roteiro e produção, que divide com a atriz Priscila Fantin, usa como ponto de partida um crime de colarinho branco para armar uma teia de suspense em torno dos envolvidos no escândalo, direta ou indiretamente.

Mina (Priscila Fantin) está na cadeia por ter participado ativamente de um esquema de desvio de dinheiro dos cofres da Previdência Social. Ela conta com a ajuda da irmã Jullienne (Cíntia Fellício) para “fornecer” drogas e objetos íntimos as outras presidiárias e, assim, garantir a sua sobrevivência. Ao mesmo tempo, arma para se vingar do Senador Franco (Antônio Calloni), mandante do esquema que está gozando da liberdade por conta do seu silêncio e que parece querer o seu pescoço. Junto a seu braço direito Martona (Luana Xavier) e a recém-chegada Beth (Carla Marins), arma um plano de fuga para concluir o a sua vingança.

A ideia é atraente e apelativa por relacionar-se com o cenário atual brasileiro e questionar quem paga pelos crimes cometidos aos cofres públicos no fim das contas. No entanto, apesar do interessante uso da história pregressa (mostrada apenas na abertura) como estopim das ações de todos os personagens,  os problemas narrativos são muitos para serem ignorados.

A trama desenvolve-se aos solavancos, acometida pela “síndrome da conveniência”. As coisas parecem acontecer sem o menor sentido, já que há uma solução fraca e improvisada para todo problema que surge. Quando Mina está em perigo, personagens aliados materializam-se para ajudá-la, assim como objetos e saídas mágicas. Porém, isso não é nada comparado a erros crassos de delineamento de personagens (em especial a Beth de Carla Marins) e enredo, sendo o ponto máximo o esconderijo escolhido pela protagonista e suas comparsas após a fuga. O resultado óbvio destes deslizes é a impossibilidade de imersão do espectador na história a ponto de se interessar pelo seu desfecho.

O acúmulo de erros do roteiro se reforça nas péssimas atuações. Todos eles (sem exceção, uns mais, outros menos) agem de maneira exagerada e caricata, como se estivessem na primeira aula de teatro. Ademais, há a falta de definição visual: a contraposição de câmeras ágeis e planos completamente estáticos parece ter sidos fruto do acaso.

Por fim, há ainda a trilha sonora. Como fã da pontuação dos momentos dramáticos através da música, devo dizer que nunca antes havia presenciado tamanho abuso desta ferramenta em um longa. Ela está em quase todos os momentos e acaba tirando a pausa que o público precisa para sentir a tensão que o filme propõe. A trilha é muito bem feita, por sinal, mas de nada adianta se rouba o espaço do silêncio, uma  ferramenta  muito mais eficaz na construção de um suspense.

Juntando os erros de construção narrativa e visual, pode-se observar que todos eles derivam do exagero. Pereira, talvez por ser iniciante na carreira de diretor, encheu o seu filme de estímulos, todos elevados a enésima potência, e acabou por danificar o resultado final da sua obra. Uma pena. Seria bom assistir a um jogo bem montado de gato e rato que debatesse sobre corrupção e poder, mas não foi dessa vez.

Cinemascope-Jogo-de-xadrez (1)Jogo de Xadrez

Ano: 2014

Diretor: Luís Antônio Pereira

Roteiro: Luís Antônio Pereira

Elenco principal: Priscila Fantin, Carla Marins, Tuca Andrada, Antônio Calloni

Gênero: Suspense, Ação.

Nacionalidade: Brasil

 

 

 

 

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