Por Wallacy Silva
Mais uma adaptação de obra literária. Repetem-se os mesmos erros. Apesar de não considerar ideal, ando perdoando aquela voz em off no início dos filmes, que por vezes servem para contextualizar a história ou economizar tempo na hora de contá-la. Mas a narração de Nick Carraway (Maguire) não nos deixa em paz durante O Grande Gatsby, prejudicando muito a fluidez do longa. Na tentativa de maquiar as falhas de roteiro (ou reafirmando o próprio estilo?), Baz Luhrmann adota um esmagador esbanjar imagético e sonoro.
As “extravagâncias” de Moulin Rouge – Amor Em Vermelho (para muitos puro exibicionismo) são identificáveis nas festas promovidas por Jay Gatsby (DiCaprio) e na casa e figurino de Myrtle (Fisher), por exemplo. Apesar de não se tratar de um musical, há muitas cenas eximiamente coreografadas. E a trilha sonora, revelada antes da estreia, funciona muito bem para aproximar o clima boêmio da época à contemporaneidade. Músicas como Bang Bang, do Will.I.Am, ou a versão de Crazy In Love, da Beyoncé, que têm uma pitada de anos 20, são verdadeiras preciosidades. O diretor também revela certa preocupação com o 3D, frequentemente colocando elementos entre o primeiro plano e o espectador (seja uma mesa, flores, a projeção da luz verde de um farol, papéis picados, a neve…). Mas já no finalzinho ele tropeça ao utilizar alternância focal em algumas cenas, algo não utilizado até então no filme, e que só atrapalha o recurso tridimensional.
E o enredo? Pois é, parece ter ficado meio de lado. Quase todos os personagens são rasos, e nada ajudados pelas atuações pouco enérgicas. Talvez o Gatsby seja o que apresente mais nuances: o homem misterioso, conhecido por poucos mas presente no imaginário da população por uma série de boatos; inseguro ao aproximar-se de sua musa, Daisy (Mulligan); obstinado pelo amor impossível e pelas amarras sociais, não aceita fugir, mas quer exibir Daisy como sua legítima esposa; ambicioso, acha que pode (e precisa) comprar todos, não entendendo o fato de Nick não querer nada em troca do favor concedido. Ainda assim algo me incomoda. Qual seriam as virtudes que fazem com que Daisy goste do Gatsby ou vice-versa? Somos obrigados a comprar a ideia de uma paixão que não se materializa na tela, a não ser pelo fato de que os dois se conhecessem previamente. Jay parece querer comprar também sua amada ao exibir seu soberbo palácio. E reúne em um caderno recortes de notícias, cartas e fotos da moça, no que se assemelha mais a uma obsessão.
A sequência mais bem arquitetada do filme, que se inicia com o gelo sendo quebrado e culmina com a completa confusão de Daisy, parece perfeita até que ressurge a narração, caminhando com a gente, apontando antes que a gente perceba, explicando o que já sabemos, lendo o livro para o espectador. Ora, o livro eu leio sozinho. A overdose estilística oferecida não ameniza em nada a completa inabilidade de construir um roteiro sem se desprender do narrador-observador do romance de Fitzgerald. Os realizadores “esqueceram” que no cinema quem deve narrar e quem deve observar é a câmera.
O Grande Gatsby (The Great Gatsby)
Ano: 2011
Diretor: Baz Luhrmann.
Roteristo: Baz Luhrmann e Craig Pearce.
Elenco Principal: Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Joel Edgerton, Isla Fisher, Jason Clarke, Elizabeth Debicki, Amitabh Bachchan.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: EUA.
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