Crítica do filme O Lobo Atrás da Porta

Por Luciana Ramos

O Lobo Atrás da Porta é um filme nacional diferenciado pelo esmero da construção narrativa e visual. Não há pontos soltos na trama, que se desenrola por meio de discursos desencontrados e manipulados sobre os mesmos fatos. O filme marca a estreia do diretor Fernando Coimbra, também responsável pelo roteiro, e afirma o seu talento como contador de histórias.

Sylvia (Fabíula Nascimento) vai buscar a filha Clarinha na escola para descobrir que a mesma já foi levada por outra mulher. Desesperada, vai a delegacia onde ela e o marido Bernardo (Milhem Cortaz), prestam depoimentos. Ele recorda o seu caso amoroso com Rosa (Leandra Leal), que é convocada para prestar esclarecimentos. Em meio aos relatos muitas vezes desencontrados dos três, tomamos conhecimento não só do caso como também do teor do relacionamento entre eles e do quão longe cada um deles é capaz de ir para conseguir o que deseja.

O filme estrutura-se alternando os depoimentos e os flahsbacks dos acontecimentos relatados, o que o torna dinâmico. Uma escolha narrativa interessante foi a de questionar a validade do que é dito pelos personagens. Isso quer dizer que nem sempre os fatos que vemos em cena correspondem a realidade, já que os envolvidos mentem para se proteger. Portanto, mais vale o modo como cada um discorre sobre suas vidas do que a verdade em si.

Além de se pautar no suspense, escolha rara no cinema brasileiro, o filme se distancia de muitos outros pela construção visual. A cargo de Lula Carvalho, a fotografia conduz o espectador por meio do contraponto entre planos estáticos, que acompanham as expressões dos atores, e movimentos rebuscados de cena. Assim como a verdade, as imagens revelam-se aos poucos para o público e uma mesma cena ganha mais de uma perspectiva.

As atuações merecem o mesmo destaque. Os atores Leandra Leal, Fabíula Nascimento, Milhem Cortaz e Juliano Cazarré concedem densidade a história através das nuances dramáticas que imprimem em cada cena.

Apesar dos acertos, o filme perde um pouco do seu ritmo a partir do meio, quando interrompe a dinâmica narrativa para focar-se apenas em recontar a história. Além disso, a cena que justifica o crime do sequestro parece um pouco forçada mas, ainda assim, concede o embasamento necessário para a trama. Ambos, porém, não tiram a qualidade do filme como um todo.

O longa de estreia do roteirista de diretor Fernando Coimbra revela a sua maturidade artística por apresentar uma visão clara e sofisticada do que deseja abordar. Contando com fotografia e elenco de primeira, O Lobo Atrás da Porta prende a atenção não apenas pelo desaparecimento da menina, como pelo esmero com que revela a história. Diferenciado e interessante, discursa sobre relacionamentos, suas ilusões, desilusões e a condição humana.

Assista o vídeo que fizemos da coletiva de imprensa do filme com os atores e diretor AQUI.

O Lobo Atrás da Porta