Por Jenilson Rodrigues

Apesar de alguns cartazes de O Último Amor de Mr. Morgan causarem a impressão de que se trata de mais um romance entre uma jovem e um senhor bem mais velho a figurar nas telonas, o filme surpreende ao ir além do que as expectativas parecem nos alertar. Michael Caine encarna um personagem misterioso e peculiar que acaba trazendo leveza e despertando o interesse do espectador, ainda que em alguns momentos suas atitudes ganhem a desaprovação de uma grande maioria.

Matthew Morgan é um professor americano de filosofia aposentado que vive em Paris e que costumava ter como única companhia a esposa com quem se mudou para a cidade luz, mas que veio a falecer, o deixando meio sem rumo na vida. Ao encontrar e conhecer ocasionalmente a professora de dança Pauline (Clémence Poésy), Mr. Morgan passa a dar mais atenção para o mundo exterior, deixando um pouco de lado a melancolia e sua rotina entediante do dia a dia de lamentações pela solidão.

É quase impossível resistir ao tom poético da narrativa e a forma como cada elemento contribui para transformar o filme em algo belo e tocante. A fotografia impressiona. Aos poucos vemos as cores e tons escuros – que acompanham Mr. Morgan em seu luto por grande parte da trama – se desfazendo ao surgir alguma ponta de esperança que o religue ao mundo, trazendo cores um pouco mais vivas em momentos que fogem da insociabilidade do personagem. A luz natural também foi muito utilizada para iluminar cenas onde o protagonista parecia ser surpreendido por possíveis saídas para as dificuldades eminentes. A cada cortina, janela ou porta aberta, novas perspectivas pareciam querer se juntar ao mundo de Mr. Morgan, embora em muitos instantes ele precisasse ser sacudido ainda mais para enxergar além de sua tristeza.

Outro ponto relevante do longa é apresentar fielmente a frieza com a qual muitas vezes a relação familiar é conduzida, principalmente entre pais e filhos. Ao se mudar para Paris, Matthew acaba se afastando dos filhos Miles (Justin Kirk) e Karen (Gillian Anderson), que viviam do outro lado do mundo. Porém, diante do reencontro da família percebe-se que a distância geográfica é apenas um referencial. Uma ruptura de diálogo e mágoas acumuladas já são o suficiente para configurar o grande abismo que acaba se formando entre eles.

O que poderia acrescentar e tornar ainda mais agradável o clima leve do enredo seria uma trilha sonora um pouco mais presente. A ausência de som combina muito com o ritmo da trama, mas algumas melodias poderiam conduzir de forma agradável os acontecimentos, sem tirar a naturalidade das cenas e muito menos deixá-las cansativas.

Acompanhar a interessante história deste simpático senhor nos faz lembrar de que pouco importa o quão sombrio e estranho possa parecer nosso mundo interior, há sempre um sol brilhando do lado de fora e a vida segue com ou sem a nossa presença. E, além do mais, não só existe vida lá fora como também pontes sempre se apresentam para tentar nos conectar com o que há de melhor em nós mesmos ou nos outros, o difícil é perceber estes caminhos e se permitir ir além do que julgamos possível.

 Cinemascope-O Último Amor de Mr. Morgan (1)O Último Amor de Mr. Morgan (Mr. Morgan’s Last Love)

Diretor: Sandra Nettelback

Roteiro:François Dorner, Sandra Nettelback

Elenco Principal: Clémence Poésy, Jane Alexander, Justin Kirk, Michael Caine

Gênero:Drama

Nacionalidade: Alemanha, Estados Unidos, França

 

 

 

 

 

 

Confira o trailer:

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