Por Luciana Ramos

Em uma cena, Peter Mitchell (Christopher Walken) explica aos seus alunos as armadilhas do “Opus 131” de Beethoven: o fato de os sete movimentos serem tocados sem pausa causa, em algum momento, desafinações nas cordas. Como consequência, o som produzido fica pouco harmônico, condição que persiste até o final. A partir desse dilema, ele questiona sobre as alternativas: o que é melhor? Continuar tocando, tentando atingir uma afinação em grupo, ou desistir?

Tal discurso serve de analogia ao conflito principal de O Último Concerto. Quando Peter descobre ter Parkinson em estágio inicial, decide retirar-se do quarteto que integra com as seguintes condições: tocar no primeiro concerto comemorativo dos vinte e cinco anos do grupo e, posteriormente, ser substituído por outra violoncelista, conservando assim a identidade artística do Fugue.

No entanto, tal “desafinação” causa desdobramentos dramáticos muito maiores que os desejados, já que questões internas dos outros músicos, Juliette Gelbart (Catherine Keener), Robert Gelbart (Phillip Seymour Hoffman) e Mark Ivanir (Daniel Lerner), surgem para pôr em risco a sobrevivência do quarteto de cordas.

Entrelaçando de maneira interessante tais questionamentos, o filme de Yaron Zilberman tece gradualmente uma teia de ressentimentos, angústia, escape e enfrentamento, levando seus personagens ao limite das emoções.

Apesar de extremamente cativante, o roteiro peca pelo excesso de dramaticidade em algumas passagens. A inclusão de algumas subtramas desnecessárias ou pouco exploradas são utilizadas como gatilho para provocar maior tensão entre os músicos, mas involuntariamente expõem um mau aproveitamento do conflito principal.

Ainda que enfraqueçam a trama, tais falhas são apaziguadas pelo modo com que o elenco de peso do filme fornece credibilidade e sutileza aos seus papéis. Em destaque, há a atuação de Phillip Seymour Hoffman, em um dos últimos papéis de sua carreira. Robert Gelbart concede ao espectador mais um vislumbre da capacidade dramática que o ator tinha em conceder nuances em suas interpretações, contrapondo com eficiência explosões dramáticas à pequenas expressões faciais.

Em resumo, O Último Concerto é indicado para aqueles que gostam de filmes mais intimistas e existenciais, além dos fãs de música clássica e do trabalho de bons atores.

 

Cinemascope - O Último ConcertoO Último Concerto (A Late Quartet)

Ano: 2012

Diretor: Yaron Zilberman

Roteiro:Seth Grossman,Yaron Zilberman

Elenco Principal: Philip Seymour Hoffman, Christopher Walken, Catherine Keener

Gênero: drama

Nacionalidade: EUA

 

 

 

 

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