Por uma Mulher

Por Luciana Ramos

Por uma Mulher começa em 1980 quando duas irmãs, diante do sofrimento pela perda da mãe, decidem revirar os seus pertences e reacendem a dramática história do casamento dos seus pais. Um grande flashback, que ocupa a maior parte do filme, nos leva à 1945, ano em os jovens judeus de origem ucraniana Michel (Benoît Magimel) e Léna (Mélanie Thierry) conseguem se casar em Lyon, onde vivem, e obter visto permanente.

Lutando para construir um futuro após a devastação da Guerra, tentam solidificar o seu casamento a base de presentes, da parte dele, e de abnegação, por parte dela, visto o fato de que na verdade não o ama.

Porém, isto é posto à prova quando o enigmático irmão de Michel, Jean (Nicolas Duvauchelle), aparece em sua casa. Léna então desperta os seus sentidos para a possibilidade de vivenciar uma paixão avassaladora, mas experimenta o medo de perder tudo o que tem e trair aquele que lhe salvou (literalmente).

O foco de abordagem do longa de Diane Kurys é o triângulo amoroso e os seus desdobramentos na vida da família. Como drama, revela-se previsível e arrastado, no sentido de que o conflito demora para se estabelecer.

Entretanto, possui um pano de fundo extremamente interessante, já que propõe fazer uma crítica social com cunho político. Michel representa o homem ligado aos ideais comunistas, fervoroso na possibilidade da sua implementação no Estado, que fica extasiado ao ver sua pequena alfaiataria ganhar clientes com a ideia do seu irmão de produzir ternos em massa.

A mulher do presidente do Partido é outra figura destacável nesta argumentação, por ser aquela que frequenta as reuniões apenas para ver o seu amante. O passado de Jean, quando revelado, também ajuda a enriquecer a complexidade social daquela época.

Assim, Kurys consegue tecer uma complexa teia onde os ideais se enfrentam com a realidade e os objetivos individuais, sedimentados no processo de reconstrução social.

Todavia, como explicitado acima, este não é o elemento principal de Por uma Mulher e, consequentemente, seu maior erro. A escolha de acentuar o seu caráter romântico transforma um filme potencialmente relevante em algo regular, já visto antes, com desdobramentos pouco empolgantes e um final clichê.

Por uma Mulher (Pour une femme)