Por Wallacy Silva

Reis e Ratos já parte de uma premissa no mínimo desanimadora: um filme de comédia sobre o golpe militar de 64, início de uma era de terror e de repressão na história do nosso país. Não sei se é preciso dizer, mas fundamentalmente esse assunto não tem graça nenhuma. O que parece que vai ser ruim consegue ficar pior já que o filme, que deveria ser comédia, também não tem nenhuma graça.

A história é de uma conspiração norte-americana para derrubar o presidente do Brasil. O plano é simples, colocar um poderoso pecuarista em confronto com o presidente para que ele queira matá-lo. O motivo? Amor. A “narradora” é a cantora Amélia Castanho (Mandelli) que recebe uma proposta de casamento do tal poderoso pecuarista, Esmeraldo Carvalhal (Orã Figueiredo). Mas os agentes norte-americanos armam tudo para que Amélia se encontre com o presidente (Romar), conseguem fotos dos dois juntos e as mostram para Esmeraldo, que acaba convencido a encomendar o assassinato do governador máximo do Brasil.

O filme beira ao ridículo em diversos aspectos. As atuações são horrendas, talvez o que mais impressione seja a transformação do Rodrigo Santoro que encarna o personagem Roni Rato, mas nada de tão notável. Selton Mello é Troy Somerset e forja um sotaque inglês ridículo em uma das primeiras cenas do longa, pior do que o portunhol que ele exibe em Lope. Na cena seguinte ele já fala de maneira praticamente normal, demonstrando o desleixo na construção do personagem, que está frequentemente com os olhos apertados e terminando suas frases com “filho”. Cauã Reymond é Hervê, um radialista-alcoólatra-médium-espadachim-cossaco-guerreiro-arqueiro, sem dúvida um dos personagens mais bizarros que eu já vi.

O filme subestima o espectador de diversas maneiras. Já não bastando a existência da narradora, a todo o momento aparecem diálogos informativos, como quando a mulher de Troy diz, na loja de sapatos, que aquilo não é nada mais do que uma fachada. A câmera também age de maneira didática ao extremo, como quando o Major Esdras (Otávio Müller) fala para Roni Rato que ele está se perdendo nas anfetaminas e a câmera só falta entrar nos vidrinhos que estão em cima de uma mesa, em um close exagerado. O efeito do preto e branco é utilizado para demonstrar que uma parte da história trata-se de um flashback, o que seria compreensível se isso não fosse praticamente metade do filme. O espectador é tratado como uma criança e o filme chega a lembrar um desenho animado. Quando o malfeitor vai plantar uma bomba em um lugar, essa tem um relógio enorme em sua frente. Sem falar na forma ridícula que os personagens falam, lembrando muito as dublagens de desenhos animados.

Os diversos diálogos, na medida em que o filme se desenrola, se mostram cada vez mais dispensáveis. São muitas as cenas que não colaboram com o andamento da narrativa e que parecem simples “momentos piadinha”, que no fim das contas não arrancam risada alguma. É deprimente como acompanhamos paralelamente a história do que poderia ser a deposição de um presidente e o “drama” de um dos personagens, que sofre de ejaculação precoce. Só é possível lamentar que um grande elenco como esse, com atores que já protagonizaram obras muito significativas como Abril Despedaçado e Lavoura Arcaica, não tenha sido bem aproveitado.

 

Cinemascope---Reis-e-Ratos-PosterReis e ratos

Ano: 2011

Diretor: Mauro Lima.

Roteiro: Mauro Lima.

Elenco Principal: Rodrigo Santoro, Selton Mello, Cauã Reymond, Rafaela Mandelli.

Gênero: Comédia.

Nacionalidade: Brasil

 

 

 

Veja o trailer:

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