Por Ana Carolina Diederichsen

O policial Andreas (Nikolaj Coster-Waldau) e sua bela esposa Anna (Maria Bonnevie) acabaram de ter um filho. Lindo e saudável, Alexander se converte na principal alegria do casal e no principal foco de atenção. Embora cansativa, a vida parece perfeita e feliz. Apesar disso, existe um sutil clima de tensão velada, quase como uma suspeita, que mais pra frente se revela fundada e desconcertante.

De volta ao trabalho, o policial faz uma visita de rotina a um dos bandidos em liberdade condicional que ele acompanha. Tristan, condenado por diversos crimes, e ainda sob o efeito de drogas, mora com sua namorada Sanne (a modelo May Andersen, numa convincente primeira atuação).  A casa é o reflexo do desleixo e da precariedade em que vivem. Roupas sujas, restos de comida e sinais de drogas em todos os lugares. A surpresa maior é encontrada dentro de um armário com as portas fechadas. Lá, em uma caixa de sapatos, está um bebê, da mesma idade de Alexander. Ele está passando frio, todo sujo e suas fraldas parecem ter sido trocadas pela ultima vez há pelo menos 3 dias.

Mortificado pela situação, Andreas tenta pelos meios legais, proteger a criança. Mas sem provas contundentes, a tentativa falha.  O descaso é tamanho, que Tristan chega a drogar forçosamente Sanne para que ela não cuide do bebê e só dê atenção a ele. A jovem se esforça, mas o vício e a repressão do namorado a impedem de dar o mínimo de atenção ao filho.

Temos duas realidades díspares postas lado a lado. Quando comparados, os destratos de Tristan parecem ainda maiores em relação à afetuosidade de Andreas. Esse é o ponto de partida para uma trama que, se não fosse tão bem construída pela experiente Suzanne Bier, diretora do vencedor do Oscar de filme estrangeiro, Em um Mundo Melhor, se tornaria um melodrama novelesco ao melhor estilo Manoel Carlos.

O longa traça um percurso inesperado e contundente, que vai do drama familiar ao policial. A história transporta o espectador para o contexto vivido pelo protagonista e desperta o questionamento sobre seus atos. Será mesmo que o melhor para todos é de fato aquilo que a lei impõe? Essa resposta nos é dada pela frieza nórdica, que ganha sentimentos e humanidade pelos olhos de Nikolaj Coster-Waldau, que se tornou mais conhecido pelo grande público por seu papel como Jamie Lannister na cultuada série Game of Thrones, mas que já fazia papéis de destaque no cinema independente como no curioso Headhunters, de 2011.

Com uma fotografia que mescla com eficiência os momentos de delicadeza e tensão no filme, direção firme, surpreendentes atuações, a história densa e desconfortante se faz tragável. E até mesmo o que poderia parecer impensável num primeiro momento, se faz real, palpável e quase necessário.

Segunda Chance só vem a confirmar o ótimo momento que o cinema nórdico vive, atingindo seu ponto máximo com A Caça.

Palmas para o cinema dinamarquês. Mais uma vez.

Cinemascope -segunda chance posterSegunda Chance (En chance til)

Ano: 2014

Diretor: Suzanne Bier

Roteiro: Anders Thomas Jensen.

Elenco Principal:  Nikolaj Coster-Waldau, Ulrich Thomsen, Nikolaj Lie Kaas, Maria Bonnevie, May Andersen.

Gênero: Drama, Policial.

Nacionalidade: Dinamarca

 

 

 

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