Por Jenilson Rodrigues
Menos nostálgico, mas ainda assim atemporal. Antes mesmo das reclamações que ouvi por parte dos velhos – (assim como eu) fãs apaixonados pelo ótimo (e nunca velho) Snoopy – a respeito do longa de Steve Martino, pensei que seria preciso ponderar, afinal, mesmo antes da sessão, já imaginava ser praticamente impossível colocar as aventuras de Charlie Brown e cia. na telona e decepcionar as crianças e adultos ali presentes para acompanhar – com seus óculos 3D – a versão “atual” da turma de Charles Schulz.
Ao ler a palavra adaptação é difícil não vir à mente outra coisa senão comparação. Ainda assim, mesmo com o excesso de piadinhas, um beagle menos sarcástico, um Charlie Brown com semblante menos melancólico, um Lino mais apagado e uma Lucy menos (acreditem, ela já foi mais) cruel, o filme de Steve Martino tem seus méritos por trazer para novas gerações personagens carismáticos e com ar de simplicidade, algo pouco comum na era dos selfies e smartphones.
E o que mais surpreende é que eu poderia falar aqui do resgate de valores e de coisas significativas, mas Peanuts não é sobre isso, ou pelo menos, não somente sobre isso. É um filme conectado com essa geração, sem a descaracterização dos personagens dos quadrinhos de Charles Schulz ou da série de Bill Melendez .
Charlie Brown enfrenta os desafios de uma criança comum. Escola, pipa, cachorro, esporte, amor e por aí vai. Ele se divide entre tantas coisas, mas se mostra um anti-herói com dificuldades ainda maiores criadas pela sua mente, assim como os gigantes do não menos excêntrico Dom Quixote.
Os pseudo problemas acabam provocando uma auto sabotagem que depõe contra todo o tipo de popularidade que Charlie poderia pensar em ter. Aliás, nos seus sonhos é que ele vive suas maiores aventuras, tem seus grandes trunfos e é quem sempre quis ser. Pelo menos na visão dele, essa pessoa incrível só existe em sua mente.
Conectado com o presente? Sim. Charlie Brown se torna um campeão de likes numa trama onde não existe rede social, pelo menos não online. E o que vemos é que a fama não transforma quem ele realmente é. Seus medos e suas angústias continuam fazendo parte da sua rotina, até mesmo porque seu efêmero sucesso é o que dá vida a um personagem presente apenas na ilusão de seus amigos.
Deve ser pesado ouvir de alguém “você é a cara do fracasso” e prosseguir com suas tentativas equivocadas de fazer tudo certo, que acabam equilibrando o mundo a sua volta e causando um embaraço dentro da própria cabeça. O que reaproxima Charlie do próprio equilíbrio é o amor incondicional e sem reprovações de seu cão e de seus outros melhores amigos.
Charlie Brown é um exemplo de persistência, de se querer ser aquilo que acredita, mesmo sendo taxado de estranho ou de derrotado. Uma criança que realmente possui em si todos os sonhos do mundo. Talvez administrar tantos pensamentos e viver ao mesmo tempo seja seu maior desafio.
Felizmente, num mundo com tantas transformações e milhares de opções, é possível ainda ter contato com Charlie Brown, com seus medos e problemas reais. Para muitos, só um personagem e para outros tantos, uma das figuras mais humanas já criadas.
Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, O Filme (The Peanuts Movie)
Direção: Steve Martino
Roteiro: Brian Schulz, Charles M. Schulz, Cornelius Uliano, Craig Schulz
Elenco Principal: Alexander Garfin, Bill Melendez, Hadley Belle Miller, Noah Schnapp
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Nacionalidade: EUA
Veja o trailer:
Galeria de Fotos: