Por Ana Carolina Diederichsen

Uma historia clássica, que já foi contada de diversas maneiras, ganha mais uma adaptação para as telonas. Tarzan, agora ganha os contornos em 3D. Trata-se de uma empreitada alemã, apesar do idioma original ser o inglês, sem muito sentido. Na tentativa de reformular e atualizar o clássico, o diretor de animações pouco expressivas, Reinhard Klooss, que assina também o roteiro com Jessica Postigo e Yoni Brenner, trilha um caminho que o conduz a incoerências na trama.

Para se destacar dos demais filmes baseados no livro de Edgar Rice Burroughs, a nova versão introduz um novo “personagem”: um meteoro gigantesco apontado como o responsável pela extinção dos dinossauros. Aqui, ele é dotado de poderes extraterrestres mágicos, capaz de gerar enormes quantidades de energia, além de conferir às plantas e animais que o circundam, características especiais. Apesar de apresentado, o objeto não é bem abordado no filme e, como tantas outras coisas, é mais uma insinuação que fica no ar.

Em busca do poder energético do meteoro, o dono de um gigantesco conglomerado de empresas do ramo, parte para a África levando esposa e filho, numa viagem sem pistas e sem rumo, baseando-se apenas em uma lenda. A pergunta que fica é: como um meteoro que ocupa grande parte do continente africano passa despercebido até a atualidade? Ainda mais se ele tem poderes tão expressivos, que faz com que as plantas ganhem vida? Esses são apenas alguns dos questionamentos que o filme suscita e não responde.

Como se não bastasse, o meteoro, que parece ter algum tipo de consciência, causa desequilíbrios na natureza a cada aproximação humana. Em função disso, o helicóptero que levaria a Família Greystoke de volta à Nova Yorque cai, deixando como único sobrevivente o pequeno menino, que aparenta ter entre 5 e 6 anos e se autodenomina Tarzan (macaco sem pelos) em função de sua paixão pelos primatas.

Em outro núcleo, temos um clã de gorilas com um novo macho alfa que, ao contrario do anterior, é opressor e insensível e suas atitudes levam um pequeno filhote à morte. Desolada com a perda de seu filho, a jovem mãe parte sem rumo pela selva, até encontrar os destroços do helicóptero, onde ela encontra o assustado Tarzan. Movida pela fragilidade da criança e por sua perda recente, ela decide adotá-lo e criá-lo como sua própria cria. O menino se desenvolve como sendo um gorila do grupo, e passa a se comunicar e se mover como eles. Nesse momento, outra pergunta fica à deriva: como um menino que já tem total domínio da língua e já se locomove com perfeita destreza nas duas pernas, pode regredir de tal maneira que perde a habilidade da fala e passa a se locomover utilizando os quatro membros, tal qual um gorila? Na versão original de lenda, Tarzan era um bebe quando foi resgatado pela mãe gorila, o que torna a historia, apesar de impressionante, crível, uma vez que ele não tinha consciência de que não fazia parte daquele bando e nunca tinha ficado sob as duas pernas antes. Nesse filme, em função da idade avançada, isso se torna inverossímil.

O visual do filme é bem construído e os animais são bastante reais. Tanto que parece não ter sido feito para crianças. Os gorilas não foram antropomorfizados, como é habitual em animações infantis, não falam e se comunicam através de expressões e barulhos típicas aos animais. O tratamento dado aos gorilas, tanto no visual quanto seu comportamento em cena, nos leva a crer que o filme foi voltado para o público adulto. A edição, períodos sem falas e longas tomadas explanativas, corroboram para essa impressão. Mas o roteiro simplório e mal trabalhado, aliado a um romance fraco, dificilmente convenceria uma criança, que dirá um adulto.

O que torna o filme “assistível”, diante de tantas inconsistências, é o visual, que ainda assim não é lá dos melhores. O filme foi feito com o uso da técnica de motion capture, em que eletrodos são conectados aos atores e seus movimentos são convertidos em animação computadorizada. Essa tecnologia já deixou de ser novidade há um bom tempo e nesse caso, não apresenta nada de excepcional. Fica evidente que algumas cenas foram mantidas no corte final com o propósito exclusivo de mostrar a tecnologia 3D, principalmente no que diz respeito ao movimento dos pelos.

Vale lembrar, no entanto, que o uso do 3D já não é mais suficiente para levar as pessoas aos cinemas, como fazia anos atrás, à época de seu lançamento comercial em larga escala. Hoje, se o filme não se sustentar sem ser em 3D, ele não se sustenta e ponto. E é exatamente o que acontece com Tarzan 3D: A Evolução da Lenda ou nesse caso, a involução.

 

Cinemascope-Tarzan-A-Evolução-da-Lenda-3D -posterTarzan – A evolução da lenda (Tarzan)

Ano: 2013

Diretor: Reinhard Klooss

Roteiro: Reinhard Klooss, Jessica Postigo e Yoni Brenner,

Vozes: Kellan Lutz, Robert Capron, Jaime Ray Newman (versão Original) e Débora Nascimento, José Loreto (versão dublada em português)

Gênero: animação

Nacionalidade: Alemanha

 

 

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