Por Luciana Ramos

Sem dúvidas, Paulo Machline é um grande admirador da inventividade de Joãosinho Trinta. Após a realização do documentário A Raça síntese de Joãosinho Trinta, de 2009, decidiu homenageá-lo postumamente com uma obra de ficção que revela ao público uma faceta diferente de um dos grandes nomes do carnaval carioca.

Trinta acompanha a trajetória de Joãosinho (Matheus Nachtergaele) desde a sua chegada ao Rio de Janeiro, onde integrou o corpo de baile fixo do ballet do Theatro Municipal até a sua primeira realização como carnavalesco da Salgueiro, em 1979.

Tal corte narrativo, portanto, não privilegia o Joãosinho Trinta famoso por acompanhar de braços abertos o desfile da sua escola ou pelas suas entrevistas debochadas, mas sim na concatenação de fatores que culminou em tal persona artística.

É mostrado ao público o tímido e excessivamente educado João Jorge que, após ver o seu sonho de ser bailarino principal fracassar, se joga no mundo das óperas, agindo como cenógrafo, figurinista e alegorista. Autodidata, mostra-se culturalmente refinado e leva tais inspirações ao seu trabalho. Anos depois, é levado pelo seu “mestre” Pamplona ao barracão da comunidade salgueirense, onde eventualmente assume o posto de carnavalesco.

A partir desse momento, a desconfiança geral acerca do seu talento gera pequenos conflitos: sua “rainha” (Mariana Nunes)  recusa-se a desfilar; o chefe do barracão, Tião (Milhem Cortaz), é explicitamente avesso à ele e dificulta o seu trabalho como pode; os compositores mostram-se insatisfeitos com a escolha do tema do desfile.

O aumento gradual da tensão em contraposição à uma certa teimosia do protagonista em se submeter às exigências alheias trava um debate que vai além do Carnaval. O foco de abordagem é na visão do artista por trás da festa, no seu trabalho de criação, no seu desgaste, seu suor.

Tal objetivo não poderia ser obtido sem o excelente elenco, com destaque para o trabalho primoroso de Matheus Nachtergaele, cuja variedade de emoções imprimidas concede riqueza ao personagem retratado.

O longa de Paulo Machline  mostra ao longo dos seus 92 minutos a interessante e divertida jornada de um artista em busca da afirmação da sua arte popular e coletiva e os percalços que ele inevitavelmente encontra no caminho. Trinta fala ainda sobre a devoção da comunidade à sua escola e o trabalho por trás da maior festa popular do mundo. O roteiro bem acabado aliada a uma bela história de vida tornam-no um filme que merece ser visto.

 

Cinemascope - Trinta posterTrinta

Ano: 2014

Diretor: Paulo Machline

Roteiro: Paulo Machline, Claudio Galperin, Felipe Sholl, Mauricio Zacharias

Elenco Principal: Matheus Nachtergaele, Paolla Oliveira, Milhem Cortaz, Fabrício Boliveira, Mariana Nunes

Gênero: drama, biografia

Nacionalidade: Brasil

 

 

 

Veja o trailer:

 

Galeria de Fotos: