Por Guilherme Franco

Truman é o novo filme com o ator argentino Ricardo Darín (Um Conto Chinês, O Segredo dos Seus Olhos) e o espanhol Javier Cámara (Fale com Ela, Má Educação). Coprodução entre Canadá e Espanha, o longa traz uma história com um tema polêmico e delicado – uma doença terminal – , mas de forma discreta.

Dois amigos de infância, agora separados por uma longa distância, se reencontram um dia para relembrar histórias e momentos, mas esse reencontro acaba mudando algumas escolhas de suas vidas. A narrativa se estrutura em um tripé: o cachorro Truman, a morte e a amizade entre os dois. “Não sabia que precisava de argumentos para seguir a vida. ” Com conversas questionadoras e descobertas, a relação vai se ajeitando e algumas coisas vão sendo cada vez mais questionadas e incomodadas. Julián (Ricardo Darín) está no filme com uma aparição cansada, que é reafirmada com a fotografia muitas vezes acinzentada. Já Tomás (Javier Cámara) aparece questionador e buscando animar o amigo com esse comportamento até certo ponto depressivo.

Truman é quase que uma extensão de Julián. Em muitos momentos somos questionados sobre a irracionalidade de um animal como o cachorro. Ele é um grande cúmplice de Darín, compartilhando até mesmo os sentimentos do protagonista. O filme possui um tom silencioso que se relaciona com o problema de Julian, o diretor transpassa por meio de atos não tão dramáticos uma reflexão convidativa ao espectador.

Outro ponto de mudança da narrativa acontece na Holanda, local onde o filho de Júlian mora, mas por conta da separação de seus pais eles não se falam muito. Esse fato não é muito desenvolvido no filme, aparece apenas como um desencargo de consciência do personagem de Darín, uma viagem onde ele pode ver o andamento da vida do filho, que já não tem mais espaço para ele. Faltou uma maior conexão da trilha com a narrativa, esta que é pouco inserida, para dar a sensação de vazio e até certo ponto, de êxtase do protagonista. Outro aspecto que poderia ter sido melhor trabalhado é o drama, o filme retrata, de forma observadora e silenciosa, mas poderia ter mais pontos singulares e irônicos para o espectador se reconhecer e identificar. Talvez se fosse intensificado um pouco, sem ser de forma exagerada, o olhar depressivo e rabugento de Júlian, a ingenuidade questionadora de não entender o que está acontecendo com o amigo de Tomás, e até a a atriz coadjuvante na história, que poderia ser mais excêntrica.

Vale à pena assistir e refletir sobre alguns assuntos que muitas vezes ignoramos ou escondemos na gaveta como dores que nunca serão resolvidas, como doenças terminais e outros tabus da sociedade. Mas também repensar a relação do homem com o animal, e não apenas um cachorro, mas todos que como nós, seres humanos, tem sentimentos.

TrumanTruman

Ano: 2015

Direção: Cesc Gay

Roteiro: Cesc Gay, Tomàs Aragay

Elenco Principal: Dolores Fonzi, Javier Cámara, Ricardo Darín

Gênero: drama

Nacionalidade: Argentina

 

 

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