Por Luciana Ramos

O título do novo longa de Scott Cooper, conhecido pela direção de Coração Louco, inspira a imagem de um justiceiro que sai por aí à procura de vingança. No primeiro momento, o filme é exatamente isso, mas vai além e ganha densidade ao explorar a motivação do protagonista: o amor pelo seu irmão, a quem quer proteger e, posteriormente, fazer justiça.

Uma cidade pequena e cercada de metal enferrujado é o lugar onde Russel Baze (Christian Bale) vive sem grandes aspirações. Trabalha como soldador em uma das fábricas locais e divide o resto do seu tempo entre a namorada Lena Taylor (Zoë Saldaña), com quem planeja ter um filho, e o pai doente. Já o caçula Rodney (Casey Affleck), veterano do Afeganistão, tem extrema dificuldade em se readaptar à vida civil e envolve-se em dívidas, sendo forçado a lutar (e fingir perder) para saldá-las. Após passar um tempo afastado na prisão por circunstancias trágicas, Russel descobre que o seu irmão se envolveu com o traficante e responsável pela organização das lutas clandestinas Harlan De Groat (Woody Harrelson) e encontra-se desaparecido. Decide, então, ir atrás do vilão para acertar as contas.

O grande acerto da trama é a mudança de abordagem: enquanto outras produções com premissas similares reduzem-se à uma sucessão de cenas sangrentas, nesta, toda a ação é respaldada na relação entre os irmãos. Na verdade, trata-se essencialmente de um drama familiar; a violência aparece como um recurso alternativo à vagarosidade da polícia.  A construção visual auxilia neste entendimento através do uso de artifícios como a montagem paralela, em especial na sequência em que um irmão caça enquanto o outro luta. Ademais, a direção precisa e despida de virtuosismos de Cooper ajuda a definir o ritmo do filme, um pouco mais vagaroso que outros do gênero. Cabe ainda destacar a trilha sonora simples e bonita, com apenas alguns acordes de violão e a excelente música-tema do Pearl Jam, como pontos positivos.

Destacam-se as atuações, todas excelentes. Casey Affleck está convincente e mostra uma gama maior de emoções que em trabalhos anteriores. Christian Bale prova mais uma vez ser um dos atores mais completos da sua geração em uma performance contida mas, ainda assim, impactante. Já Woody Harrelson, que parece ter se especializado em vilões nos últimos tempos, está ótimo como a personificação do mal.

Apesar do saldo positivo, alguns problemas narrativos desviam o foco do enredo, virando “gordura”. A própria cena de abertura, claramente usada para apresentação do personagem de Harrelson, parece falsa e é absolutamente descartável, já que sequências posteriores executam o mesmo papel. Ademais, o policial Wesley Barnes (Forest Whitaker) tem pouco peso e poderia ter sido melhor desenvolvido e a relação romântica de Bale com Zaldaña, apesar de auxiliar na simpatia do público com o protagonista, é tão pouco explorada que não faria falta.

Curiosamente, o longa enfrenta um processo judicial por promover uma visão estereotipada da etnia indígena Ramapough, que não é mencionada em momento algum. Eles alegam que o nome Harlan De Groat e o lugar onde o vilão e sua gangue moram fazem alusão a tribo de forma pejorativa.

Polêmicas à parte, Tudo por Justiça merece ser assistido por oferecer novos contornos as já batidas histórias de vingança.

Apesar da quebra de ritmo em algumas ocasiões, a trama é bem feita e prende a atenção. Ela consegue ser tocante sem ser dramática demais, harmoniosa e interessante. É sempre bom observar Bale se recriar nas telonas.

 

Cinemascope-tudo-por-justiça-poster-br (1)Tudo por Justiça (Out of the furnace)

Ano: 2013

Diretor: Scott Cooper

Roteiro: Brad Ingelsby, Scott Cooper

Elenco Principal: Christian Bale, Casey Affleck, Woody Harrelson, Willem Dafoe, Zoë Saldaña

Gênero: Drama, suspense,ação

Nacionalidade: EUA

 

 

 

Confira o trailer:

 

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