Tudo vai Ficar bem

Por Guilherme Franco

O novo trabalho de Wim Wenders traz um conflito de relacionamentos, uma continuidade da narrativa que coloca como se o próprio filme estivesse de crise e de luto. Certo dia, o escritor Tomas (James Franco) briga com sua mulher e sai dirigindo sem rumo, até que acidentalmente atropela uma criança e nunca mais consegue viver com tranquilidade.

Um filme em que Charlotte Gainsbourg e James Franco, que já atuaram em projetos interessantes com resultados bacanas, trabalham juntos gera a expectativa de algo impactante, mas nesse caso é empregada uma monotonia, talvez pela proposta do diretor, de inserir um realismo no projeto, ou mesmo manter a constância que alguns de seus filmes têm. Tudo vai caminhando calcado num tom depressivo e muitas vezes acontecimentos se desenrolam rapidamente em cena. Velocidade que te obriga a refletir sobre o que aconteceu, ou apenas mais uma faceta revelada da estrutura do filme.

Kate (Charlotte Gainsbourg) traz uma personagem um tanto quanto singular. Joe, interpretada por ela em Ninfomaníaca se mostra muito mais “demoníaca” e sofredora do que Kate, e a personagem de Charlotte neste filme se mostra como uma versão mais superficial da ninfomaníaca, com aquele olhar de loucura e raiva. Uma singularidade do filme é o tratamento que ele dá a depressão, como ninguém entende quem tem, sempre acham que é uma frescura, “doença de rico”. E apesar de superficial, Tudo Vai Ficar Bem traz um pouco do vazio dessa tristeza em excesso, mas trabalhos anteriores do diretor, como Asas do Desejo, mostra bem mais esse sentimento oco, essa sofridão.

Tecnicamente despretensioso, o filme não explora novos caminhos, nem destinos estranhos à carreira do diretor. O longa contém uma trilha peculiar com arranjos marcantes, mas que em alguns momentos não se conectam à narrativa. O filme vale à pena ser assistido, mas outros trabalhos de Wenders trazem muito mais inovação e singularidades interessantes.