Por Luciana Ramos

Maud Schoenberg (Isabelle Huppert) é uma diretora de cinema super conceituada que vê sua vida se transformar após sofrer uma hemorragia cerebral. Enquanto reaprende a viver com as restrições de movimentos que ficaram de sequela, começa a buscar um novo projeto, uma forma de reafirmar sua identidade como artista e, consequentemente, como pessoa. Ao ver na televisão uma entrevista com Vilko Piran (Kool Shen), decide que sua história pode ser inspiradora e consegue convencê-lo a atuar como si mesmo no seu filme.

A partir daí, Vilko torna-se uma presença constante na sua vida e a relação entre os dois ultrapassa as barreiras profissionais. O vigarista discute abertamente seus problemas com a lei e a sua esposa, ao mesmo tempo que ajuda Maud nas suas dificuldades rotineiras. O relacionamento progride rapidamente e a amizade vira dependência emocional e financeira, já que ela decide emprestar-lhe dinheiro. Porém, não é possível ter certeza até momentos avançados da trama sobre quem possui maior controle sobre o outro ou até onde vai a sinceridade dos laços.

O filme baseia-se na experiência da própria diretora, que resolveu explorar, da maneira que sabe melhor, o seu envolvimento com um famoso vigarista.  Apesar de frisar que trata-se “de um filme de Catherine Breillat e não sobre ela”, é possível identificar o tom pessoal em algumas cenas.

Os primeiros vinte minutos são reservados para a reconstituição do seu acidente cerebral, passando pelo momento em que acorda paralisada até a sua completa adaptação as novas condições. Por meio de planos estáticos, ela consegue passar o sofrimento de alguém que um dia se torna refém do próprio corpo, assim como o desespero que isso provoca e as mudanças nos relacionamentos com todos ao redor.

Estranhamente, a profundidade e precisão dramática são deixadas de lado no que consente ao desenvolvimento da protagonista com Vilko. Exatamente o contrário do que esperamos de uma autobiografia, o longa opera na superficialidade, tornando-se pouco esclarecedor e, consequentemente, descartável.

É possível que Breillat tenha optado por uma abordagem impessoal dos acontecimentos que sucederam sua doença para se proteger. Como resultado, o público se vê condenado a uma sucessão de cenas aleatórias que não justificam os pulos dramáticos. Não fica claro, por exemplo, o estreitamento da amizade a ponto de levar Vilko a mudar-se para a casa de Maud, ou por que razão ela lhe emprestaria tanto dinheiro, sabendo de quem se trata. Por conta disso, Uma Relação Delicada falha em conseguir tornar-se crível o suficiente para reter a atenção.

Sendo assim, a grande atração do filme (de fato, a justificativa ao valor do ingresso) é a atuação da consagrada atriz Isabelle Huppert. Uma prova do seu talento veio no encontro que teve com o público durante Festival Varilux de Cinema Francês. Todos pareciam impressionados na maneira que conseguiu usar as limitações da personagem para exprimir a sua dor. Foram diversas as indagações e merecido elogios a respeito da construção da personagem. Huppert de fato imprime força e determinação numa mulher que não esmorece com as dificuldades e conscientemente embarca em uma relação que ao mesmo tempo a satisfaz, a provoca e a intriga.

Kool Shen também não decepciona como o autoproclamado vigarista Vilko. O ator realiza um trabalho a altura como aquele que abusa da hospitalidade de Maud para se infiltrar cada vez mais na sua vida, escondendo suas reais e desconhecidas intenções sobre um véu de cordialidade.

A excessiva concisão com que Catherine Breillat resolveu contar a sua vivência condenou o seu longa a uma sequência de acontecimentos arbitrários que não conseguem justificar o peso dramático do desfecho da trama. Os problemas narrativos são tamanhos que os personagens coadjuvantes, que possuem peso pelo seu relacionamento com os principais, chegam a desaparecer no meio do filme.

Assim, nem mesmo os esforços admiráveis de Isabelle Huppert e Kool Shen conseguem torná-lo significativo e interessante. Uma pena, considerando a dubiedade de intenções propostas no começo. Porém, não deixa de ser uma oportunidade para os fãs de Huppert vê-la provar mais uma vez porque é um dos maiores nomes do cinema francês contemporâneo.

Cinemascope-uma-relação-delicada (1)Uma Relação Delicada (Abus de faiblesse)

Ano: 2012

Diretor: Catherine Breillat

Roteiro: Catherine Breillat

Elenco Principal: Isabelle Huppert, Kool Shen, Laurence Ursino

Gênero: drama

Nacionalidade: França

 

 

 

Confira o Trailer:

 

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