Por Ana Carolina Diederichsen
A história de Frankenstein já recebeu tantas adaptações para o cinema que já habita o inconsciente coletivo. Aqueles que não associam de imediato a imagem do semi-morto/quase-vivo ao nome, reconhecem as diversas criaturas inspiradas na aparência do mostro. Sem essa pretensão, Mary Shelley acabou por criar o grande ícone do terror mundial ao publicar seu romance, “Frankeinstein”.
A nova versão do clássico para o cinema faz um recorte narrativo interessante: numa espécie de prequel, conta a “história antes da história”, com os passos que levaram à criação do tão famoso monstro. Nesse caso, sob a perspectiva de Igor (Daniel Radcliffe), um jovem com uma séria deformidade, mantido desde criança como uma das principais atrações de um circo. Lá, o palhaço forçado usou seu tempo livre para estudar e desenhar as estruturas do corpo humano. Numa manifestação visual muito bem resolvida, os desenhos de anatomia de Igor se sobrepõem às cenas, nos inserindo ainda mais em seu universo.
Pela ação do acaso, Victor Frankeinstein (James McAvoy) resgata Igor do circo, o tomando por seu pupilo. O personagem que nomeia o filme é um estudante de medicina tão genial, quanto genioso. Imediatamente o ex-palhaço autodidata se encanta por aquele que o salvou e, juntos, passam a desenvolver uma técnica para reverter o processo mais inevitável de todos: a morte.
O longa retrata o fascínio pela vida e pela morte, versando sobre a estreita linha que separa o encantamento da obsessão. O diretor Paul McGuigan, inspirado pela nova geração de diretores ingleses encabeçada por Guy Ritchie, cria uma atmosfera interessante, mas ainda tímida. A narrativa é sobrecarregada por tramas e subtramas. Tentando se enquadrar ao ritmo de Hollywood, cria uma perseguição policial que acaba dissipando os potenciais questionamentos morais e religiosos. Na ânsia de resolver o longa numa apoteose dramática, o roteiro perde sua conexão com a própria história, deixando o final confuso, mas não chega a estragar o filme.
James McAvoy mantém-se no total domínio de seu personagem, sem surpreender. Daniel Radcliffe, ao contrário, surpreende. E comprova que, apesar do peso de seu papel na série Harry Potter, conseguiu fazer boas escolhas profissionais e desvencilhar-se da imagem do famoso bruxo. Mostra ainda maturidade o suficiente para interpretar um personagem com diversas nuances.
Se engana quem vai ao cinema esperando encontrar um filme de terror apavorante. O tema é delicado e beira a morbidez, mas não passa disso. Victor Frankeinstein fala, sobretudo, sobre paixões e a influência delas nas escolhas pessoais. É um filme tecnicamente bem feito e completo, mas o cinema ainda deve uma versão que faça jus à bela história do romance que eternizou a mais famosa criatura de todos os tempos.
Nem mesmo a versão de 1994, dirigida por Kenneth Branagh com Robert DeNiro no papel do monstro, foi capaz de mostrar sua característica mais intrigante: apesar de seu aspecto horripilante, o que se sobrepõe é sua humanidade. Nessa aparente contradição reside a maior beleza do livro publicado há quase 200 anos.
Victor Frankestein
Ano: 2015
Diretor: Paul McGuigan
Roteiro: Nax Landis
Elenco Principal: James McAvoy, Daniel Radcliffe, Jessica Brown Findlay
Gênero: Drama, ficção
Nacionalidade: EUA
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