Texto e foto por Luciana Ramos

 

Após exibição especial do filme De Menor, longa de estreia de Caru Alves de Souza, sócia de Tatá Amaral na Tangerina Entretenimento, a mesma juntou-se ao elenco principal, composto por Rita Batata, Giovanni Gallo, Ruy Ricardo Dias e Caco Ciocler, para discutir as questões principais levantadas pela obra, assim como o processo de preparação dos personagens e escolhas estéticas.

Caru Alves de Souza revelou que o seu interesse pelo tema começou ao ouvir relatos de uma prima que trabalhou na defensoria pública de Santos e seus relatos de casos de menores em conflito com a lei. A partir de pesquisa aprofundada sobre o assunto, ela diz ter percebido “uma situação de injustiça social extrema aliada a falta de políticas públicas que pensam no adolescente e uma perpetuação da imagem do menor infrator como mero agressor”.

Assim, por concluir caber ao cinema o papel de discutir temas urgentes da sociedade, decidiu fazer De Menor que, segundo Rita Batata, intérprete de Helena, possui força por “conseguir sensibilizar o olhar da sociedade para esta que é uma questão muito delicada”.

Segundo a diretora , a ideia do filme surgiu em 2007, com cinco anos dedicados à sua realização e três semanas e meia de filmagens. Os atores passaram por um processo intenso de preparação, que incluiu frequentar audiências no fórum de Santos. Giovanni Gallo, que interpreta o adolescente Caio, ressaltou a importância dessa vivência na composição da sua personagem pelo fato de ser o seu primeiro longa e não ter conhecimento anterior aprofundado sobre tal realidade. Rita Batata disse ter contado “com a ajuda de um defensor público para entender os termos e todo o processo; também pude observar bem de perto a relação que ele mantinha com os menores e familiares e isso me ajudou muito”, ao que Ruy Ricardo Dias acrescentou: “as referências de profissionais sugeridas pela Caru foram fundamentais para o resultado do filme”.

Caco Ciocler, que vive o juiz Carlos, afirmou que o principal objetivo do seu processo de laboratório foi tentar recriar a atmosfera que o juiz no qual se inspirou cria no seu ambiente de trabalho. Sobre isso, relatou: “ele tem uma qualidade interessante; é um pouco pai daquelas crianças e consegue impor autoridade, é carinhoso ao mesmo tempo que consegue o distanciamento necessário”, afirmando que tamanho grau de familiaridade entre as partes só é possível em uma cidade pequena, como a de Santos.

Sobre a qualidade artística do seu filme, Caru Alves de Souza ressaltou o seu empenho em realizar um longa “enxuto” por conta dos seus 77 minutos finais, mas que possui tempos dilatados. Para ela, no De Menor, “era mais poderoso mostrar o momento de amargura até o choro ao invés da explosão de emoção”.

Quando perguntados sobre o assunto, todos os presentes pronunciaram-se contra a redução da maioridade penal. Caru Alves de Souza alegou não fazer “o menor sentido falar de redução da maioridade penal em um sistema carcerário como o nosso e com a situação de justiça social que vivemos”. Giovanni Gallo concordou acrescentando que “são muitos os detalhes envolvidos em cada delito que devem ser analisados além da idade da pessoa”.

Caco Ciocler não acredita existir vantagem na internação do menor por não acreditar em possibilidades de melhora daquele indivíduo quando inserido no universo penitenciário. Ruy Ricardo Dias, o promotor Paulo na trama, chamou a atenção para a banalidade da maioria dos casos: “o cara estava lá sendo julgado porque furtou uma bicicleta para dar um passeio ou um pacote de salgadinhos”. Caru Alves de Souza complementou que, com exceção do caso envolvendo as personagens principais, os outros foram generalizações do que observou na sua pesquisa, já que “os casos eram muito parecidos e tinham a ver com tráfico, furtos e roubos. Não vi, por exemplo, nada sobre latrocínio ou assassinato”.

Em cima dessa observação, Ruy criticou o fato de todos os menores serem julgados da mesma maneira, descartando a particularidade de cada um. Porém, todos afirmam que debater o assunto “não significa em deixar os infratores da lei soltos; tem que educar e punir, mas a partir de casos particulares”, como complementou Caco Ciocler.