Da Redação


(Imagem por Rodrigo Cancela/CPFL Cultura)


Inácio Araújo é crítico de cinema do jornal Folha de São Paulo. É autor de dois livros sobre a arte cinematográfica: Hitchcock, o Mestre do Medo e Cinema, o Mundo em Movimento, além de ter escrito dois romances: Casa de Meninas e Uma Chance na Vida. Entre os anos 1970 e 1980, foi montador, roteirista e assistente de direção e montagem em diversas produções. Escreveu, montou e dirigiu “Aula de Sanfona”, episódio do filme As Safadas (1982). Foi homenageado com a criação do blog, Canto do Inácio, e atualmente mantém outro blog, Cinema de Boca em Boca.


Cinemascope: Quando começou a sua paixão pelo cinema?

Inácio Araújo: Na adolescência. Eu gostava mais de literatura do que de cinema, mas me interessei, primeiro, pelos filmes europeus da época, e alguns americanos também.

CS: Quais os critérios, usados por você para classificar os filmes em “ótimo”, “bom”, “regular” e “ruim”?

IA: Esses critérios são externos, são jornalísticos. Claro, há filmes de que se gosta muito e filmes que não têm nenhuma relevância. Mas no fim é isso: acho que eu penso na “relevância” do filme.

CS: Como foi ser homenageado com a criação de um blog que reproduz seus textos, preservando suas ideias?

IA: Do blog eu gosto muito, acho que o Diego faz um trabalho muito bom.

CS: Em sua opinião, qual a melhor cena do cinema?

IA: Puxa, há tantas cenas fantásticas. Mas há dias revi uma das melhores: a cena dos roubos de carteira e dinheiro numa estação ferroviária em “Pickpocket”. É de fato impressionante.

CS: Atualmente há varias Cinebiografias. Como você vê esse gênero cinematográfico? São fiéis as suas histórias?

IA: Não existe essa de fidelidade. Fidelidade a quê? O que existe é um filme bom ou ruim. A cinebiografia pode ser boa ou ruim, mas isso não depende da “fidelidade”. É como com qualquer outro gênero.

CS: Acredita que o público brasileiro é preconceituoso? Como vê o cinema nacional hoje?

IA: Se é preconceituoso em relação ao filme brasileiro? É, o público mais rico sempre foi e continua sendo.

CS: O cinema nacional hoje são os velhos diretores? Mojica, Reichenbach, Walter Lima, Coutinho, etc?

IA: A nova geração é, de modo geral, bem fraca. Não por culpa dela. Mas não existe um projeto geral que dê força ao que se faz.

CS: Você dirigiu e escreveu alguns filmes. Como é conciliar o trabalho de crítico e cineasta?

IA: Não, eu não conciliei. Antes eu fazia filmes. Hoje eu escrevo sobre eles. São dois momentos diferentes da minha vida.

CS: O que é o cinema para você? Como avaliaria a crítica de cinema no Brasil?

IA: Cinema? A emoção a 24 quadros por segundo (Godard). A crítica é muito boa, muito melhor que o cinema que se faz, em especial essa crítica feita na internet.

CS: Qual o seu diretor preferido?

IA: Hoje eu acho que o diretor mais completo que já existiu foi Howard Hawks.

CS: Qual a maior dificuldade em se fazer crítica de cinema? Qualquer um pode criticar um filme?

Qualquer coisa que se tente fazer direito tem suas dificuldades. A maior acho que é essa de que você falou: cinema é uma coisa de que todo mundo pode falar, porque entra no cinema e entende o que está acontecendo. É diferente da pintura, em que ele entra e pergunta por que tal quadro é importante. Cinema tem essa coisa legal que é: qualquer um entra na sala e constata: “isso me agrada”, ou não. Agora, para fazer crítica é preciso, no mínimo, familiaridade com muitos filmes e com outras manifestações culturais. Quem não conhece um pouco de literatura como é que vai distinguir uma ficção boa de uma má? Então, me parece que todo mundo pode falar de filmes. Mas para discutir filmes, num nível estético um pouco mais sofisticado é preciso ter algum preparo.