Por Magno Martins
Uma das maiores obras-primas do mundo cinematográfico é, indiscutivelmente, o filme O Garoto (The Kid), dirigido e interpretado por Charlie Chaplin. Lançado em 1921, Chaplin ofereceu com maestria e talento um novo patamar para o cinema mudo: a comédia dramática.
É perceptível que Charlie Chaplin sempre teve um olhar crítico em demonstrar, em suas películas, questões que levam discussões entre diversas pessoas, independentemente de suas classes sociais. E, é claro, que isso o tornou uma das maiores lendas do universo do Cinema. Porém, neste filme, Charlie demonstra um algo a mais, que levou o público aos cinemas para conferir. E esse algo a mais foi sua sensibilidade.
O longa em si conta a história de um bebê que foi abandonado pela própria mãe, após sair da maternidade. Porém, ao invés de denotar a personagem como uma mulher ruim, Charlie teve a delicadeza de mostrar ao público sua história: uma mulher abandonada pelo namorado, grávida, sem condições financeiras e emocionais para cuidar de uma criança. Isso é perceptível em vários takes da película. Com medo de fazer o filho sofrer, ela o abandona em um carro de família com condições financeiras melhores. Ao se arrepender do feito, a mãe retorna ao local, porém, o carro fora furtado e o destino separa mãe e filho em questões de minutos.
A partir de então que o Vagabundo, interpretado por Chaplin, entra em cena. Ao encontrar a criança abandonada perto de sua casa, ele faz de tudo para reencontrar os pais do bebê. Em uma série de contratempos, com muito humor, o Vagabundo percebe que terá que ficar com a criança, especialmente ao ler o pequeno bilhete deixado pela mãe da criança em seu cobertor, pedindo aos futuros pais adotivos que cuidassem da criança com muito amor e carinho.
Desde então, a história entre o pai Vagabundo e o garoto John começa a se materializar na película. Mesmo com todas as dificuldades da vida, o Vagabundo não mede esforços para cuidar bem da criança, desde arrumando um berço e uma mamadeira improvisada com um bule de café até todo o amor, carinho e atenção solicitada pela mãe que o abandonara. Através de vários cenas bem elaboradas, juntamente com a trilha sonora fantástica, que foi criada pelo próprio Chaplin, a história composta com muita cumplicidade, simplicidade, humildade e sinceridade começa a ser formar, envolvendo o público emocionalmente com o pai adotivo e a criança abandonada.
Claro que Chaplin, em meio a isso, adicionou muitas doses de humor. Talvez para muitos a forma de ganhar a vida que o Vagabundo encontrou juntamente com o seu filho não tenha sido a melhor, mas em momento algum dá uma sensação de exploração de trabalho infantil. Muito pelo contrário, a forma que Chaplin criou para o trabalho de ambos mostra que, indiferentemente das condições precárias e os obstáculos que apareciam entre os dois, ambos lutavam pela sobrevivência um do outro, demonstrada pela cumplicidade e honestidade em sentimentos que existem entre eles.
A parte que realmente mais emociona (a mais sofrível em todo o filme) é quando tentam separar o Vagabundo do Garoto. A cena do Garoto implorando para ter o pai de volta, enquanto é levado pela caminhonete do orfanato, realmente é um dos pontos mais dramáticos do longa. Porém, o Vagabundo luta com todas as suas forças contra os malfeitores para impedir que ele fosse separado de seu filho: ele sai correndo pelos telhados da vizinhança até alcançar a caminhonete em movimento, pula na carroceria, luta contra um dos malfeitores e consegue resgatar seu filho. Para muitos, é como se Chaplin demonstrasse o que a mãe do Garoto deveria ter feito: lutar pelo filho. Mas a todo o momento ele cumpre o pedido da própria mãe: de cuidar do seu filho com muito amor, carinho e atenção.
A história em si, não termina ai: muitas confusões, dramas, cenas engraçadas compõe a trama entre o Vagabundo e o Garoto, além de diversas reviravoltas nas histórias dos coadjuvantes de O Garoto.
Muitos críticos de cinema fazem um paralelo do filme O Garoto com a própria vida de Charlie Chaplin, já que ele passou boa parte de sua infância em um orfanato, separado do seu irmão; sua mãe não tinha condições financeiras e mentais para cuidar de ambos, pois fora abandonada pelo marido quando os filhos eram muito pequenos. Há também críticos que justificam a alta dose de sensibilidade devido ao fato de que o filho recém-nascido de Charlie havia acabado de falecer quando começaram as gravações de O Garoto. Pode ser que tudo isso tenha influenciado na obra-prima, porém, uma coisa que ninguém jamais poderá negar: o talento de Chaplin em trazer para as telas de cinemas questões tão importantes (tanto na época como atualmente) como o amor, a cumplicidade, a honestidade, a humildade e a simplicidade. Nisto tudo, Chaplin foi e continuará sendo um grande mestre.
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Veja o trailer de O Garoto: