Por Soraya Yumi.
O Homem de um Braço
Terça-feira, 28 de fevereiro
Roteiro: Robert Engels. Direção: Tim Hunter.
“Mesmo aqueles que riem, às vezes, ficam sem resposta. As criaturas que se apresentam, mas que juramos já os ter encontrado antes. Sim? Olhe no espelho, o que você vê? É um sonho ou um pesadelo? Estamos sendo apresentados contra nossa vontade? Eles são mesmo espelhos? Eu posso ver a fumaça. Posso sentir o cheiro do fogo. A batalha está prestes a começar”.
Para tentar entender o que a Senhora do Tronco fala no monólogo do episódio quatro, é preciso ter em mente a existência do conceito de duplicação na série, como o seu próprio nome, Twin Peaks, sugere. Até agora só foi revelada a duplicação de uma personagem, a de Laura Palmer com sua prima, Madeleine Fergunson; outros exemplos surgirão ao decorrer da série. Além disso, há a duplicação figurativa, por exemplo: Laura Palmer tinha dois namorados na escola, James e Bobby; Norma é casada com Hank, e tem um caso com o Big Ed, que por sua vez é casado com Nadine e tem um caso com Norma; Donna namora Mike e tem um caso com James; Shelly é casada com Leo e tem um caso com Bobby; e principalmente a vida dupla dos habitantes de Twin Peaks. Portanto, o monólogo revela a dicotomia das personagens – tanto física quanto psicológica – e uma futura batalha que se iniciará.
Na casa dos Palmer, Andy esboça o retrato falado do suspeito que Sarah Palmer diz ter visto ao pé da cama. Donna Hayward e seu pai estão presentes na sala de estar, enquanto Madeleine Fergunson serve café aos convidados. Leland aparece na sala e pede, com um tom irônico, para sua esposa contar a respeito do colar – a segunda visão que ela teve sobre o colar de Laura. Sarah conta que viu uma mão vestida em luvas levantando uma pedra que escondia o colar, então Donna aparenta se preocupar com a recente visão de Sarah já que participara da omissão do objeto no episódio piloto.
Na delegacia de Twin Peaks, Cooper interroga o Dr. Jacoby sobre os porquês de Laura ter frequentado seu consultório secretamente. Após uma breve resistência, Jacoby revela que na noite do assassinato ele seguira um homem sobre o qual Laura havia falado, um homem que dirigia um corvette vermelho, mas não obteve sucesso em sua perseguição porque acabou perdendo-o de vista. Cooper faz seu primeiro contato com seu supervisor, Gordon Cole, que traz a informação via telefone sobre o barbante usado no dia do assassinato, o plástico no estômago e as marcas no corpo da vítima. Um dos barbantes é do tipo caseiro conhecido como Finley’s Fine Twine e as marcas nos ombros foram feitas por bicadas de ave. Cole envia um fax com a reconstrução do plástico achado no estômago de Laura. Gordon é interpretado pelo diretor David Lynch, o nome do personagem é referente ao filme de Billy Wilder, Sunset Boulevard, de 1950.
Andy termina o retrato falado e mostra a Cooper, que afirma ser o mesmo homem presente em seu sonho. O homem sem braço é localizado no Motel Timber Falls, mesmo motel que Catherine e Ben Horne frequentam. Os policias e Cooper chegam ao Motel, no quarto 101 está Sr. Gerard, o homem sem braço e questionam se ele conhece o homem do retrato falado, Bob. Gerard diz não conhecer. Cooper pergunta sobre a perda do seu braço tatuado, chorando, responde que tinha tatuado a mãe dele e não “O fogo caminha comigo”. Perguntam se conhece algum Bob, Gerard diz que seu melhor amigo se chama Bob e é o melhor veterinário da cidade.
No banheiro feminino da escola secundária de Twin Peaks, Audrey e Donna conversam sobre o misterioso assassinato. Audrey quer informações para ajudar Cooper nas investigações e assim, faze-lo se apaixonar por ela. Audrey revela saber muitas coisas sobre Laura. Donna aceita ajudá-la contanto que “tudo que for descoberto seja segredo”. Norma vai a audiência de seu marido, Hank, que estava preso até então. Coopera para que seja solto e reintegrado à sociedade. Durante a audiência, Hank brinca com uma peça de dominó. Enquanto na clínica veterinária, Cooper descobre que Bob, o veterinário, não é a mesma pessoa que a do retrato falado. Então, confiscam os arquivos da clínica de Bob, amigo de Gerard, para descobrir o dono do pássaro que atacou Laura Palmer.
Na casa dos Johnson, Shelly e Bobby conversam sobre Leo e Jacque traficarem drogas pela fronteira e venderem na escola. Em meio as revelações, Shelly mostra a Bobby a camisa ensanguentada que estava no caminhão de Leo dois dias depois do assassinato da colegial. Com algum plano em mente, Bobby leva a prova, afirmando que Leo não seria mais problema para eles.
No Double R, James Hurley conversa com Donna via telefone público para marcar de se encontrarem. Após desligar, ele vai até Madeleine Fergunson para perguntar quem era ela, já que sua fisionomia é idêntica a de Laura. Ainda no Double R, Norma recebe a ligação do Sr. Mooney e fica sabendo que seu marido conseguiu a condicional. Audrey Horne tenta convencer seu pai que quer fazer parte dos negócios da família, começando por baixo. Obviamente consegue o que quer, trabalhará na sessão de perfumaria na loja de departamentos dos Horne.
Na delegacia, Cooper, Truman e Andy fazem a busca nos arquivos recolhidos no veterinário. Gordon Cole liga para Cooper dando as informações que as marcas nos ombros da vítima foram feitas por um papagaio ou por um mainá, enquanto o objeto de plástico no estômago era uma ficha de pôquer do “Jack Caolho”. Em meio aos arquivos, Andy descobre a única ave mainá chamada Waldo; seu dono é Jacque Renaut. Truman, Cooper e Hawk vão até a casa de Jacque, local onde Bobby estava plantando a prova. Assim que a polícia chega, Bobby sai correndo e consegue fugir. Cooper encontra a camisa ensanguentada com as iniciais de L.J (Leo Johnson).
Nos bosques, Leo se encontra com Benjamin Horne que deixa claro que Hank, marido de Norma, havia indicado Leo para o serviço relacionado a um incêndio premeditado a Serraria Packard. James Hurley e Donna voltam ao local que enterraram o colar de Laura e descobrem que não está mais lá, exatamente como as visões de Sarah Palmer. James fica indignado de como Sarah poderia saber sobre o colar e o local. Donna responde que a Laura dizia que sua mãe era estranha, via coisas e tinha sonhos sinistros, assim como Laura. Josie recebe uma carta com um desenho feito em grafite de uma peça de dominó.
Ao decorrer dos episódios notamos de maneira cada vez mais clara a dicotomia das personagens. A duplicação traz à tona o questionamento da Senhora do Tronco sobre a apresentação das personagens-duplas: estamos sendo apresentados contra nossa vontade?.
Veja o vídeo: