7ª Mostra Mundo Árabe de Cinema

Por Aline Fernanda, Joyce Pais e Wallacy Silva

Acontece em São Paulo até o dia 22 de julho a 7ª Mostra Mundo Árabe de Cinema. Sob a curadoria de Rasha Salti, a Mostra se propõe a retratar a realidade dos países árabes mesclando filmes realizados a partir dos anos 60 (seleção Mapeando a Subjetividade) com filmes contemporâneos (seleção Um Olhar Contemporâneo), inclusive com a perspectiva de diretores do Brasil (seleção Um Olhar Brasileiro). Dentre os 32 filmes estão os de diretores como Mohammed Lakhdar-Hamina, Oussama Mohammad, Omar Amiralay e Ahmad Bouanani. A equipe do Cinemascope teve a oportunidade de conferir alguns dos filmes exibidos e traz um breve panorama da Mostra.

Verão de 70 (Summer 70 – 1970-71)

Exibido no Festival de Cinema de Abu Dhabi em 2010, Verão de 70 é uma coprodução Egito/Itália dirigido pelos estreantes Nagy Shaker e Paolo Isaja. A dupla se conheceu na Escola de Cinema de Roma, quando Shaker estudava design de palco e Paolo frequentava um cineclube para se especializar em cinema experimental, assim, com a ajuda de amigos iniciaram a produção do longa-metragem, o primeiro de suas carreiras.

O filme propõe uma reflexão sobre a liberdade na virada da década de 70, fazendo uso de linguagens do cinema experimental para evocar as vivências dos jovens da época. Através da repetição de cenas, muitas delas em tons bastante contrastados, Verão em 70 tem um ritmo de narrativa e montagem próprios, conferindo ao espectador sensações distintas, proporcionada por um trabalho que se isola do convencional.

O Infortúnio de Alguns (The Misfortunes of Some – 1981)

O diretor Omar Amiralay documenta a vida de Hajj Ali, um taxista que também administra uma funerária. O infortúnio de alguns pode vir a ser a alegria de outros, e a sobrevivência de Hajj Ali acaba dependendo de que haja todos os dias mais pessoas mortas. Utilizando-se de uma série de metáforas, o filme traz um retrato da sociedade libanesa que vivenciou a guerra civil em Beirute.

Amor Abortado (Love Aborted – 1983)

Nesse documentário Amiralay deixa as metáforas de lado pra tratar das relações entre homens e mulheres no Egito, mais especificamente da situação da mulher na época. As entrevistas revelam o preconceito contra as mulheres que perdiam a virgindade antes do casamento, como as mulheres se casavam sem saber informação alguma sobre o que era o casamento de fato, como alguns homens viam as mulheres como serventes ou meros meios para procriação, etc. As entrevistas abrangem mulheres de diferentes classes sociais e econômicas, como empregadas domésticas, advogadas e atrizes.

Beirute Fantasma (Phantom Beirut – 1998)

O filme do diretor Ghassan Salhab se passa no final dos anos 80, quando Khalil volta pra casa dez anos depois de ter simulado a própria morte e arranjado outra identidade, fugindo da guerra civil. Seu retorno desperta sentimentos controversos entre os amigos e conhecidos e Khalil é acusado até de ter sumido com o dinheiro dos companheiros de guerrilha. O diretor combina ficção com documentário ao dar espaço para que os atores falem, durante o filme, sobre suas visões da guerra e do pós-guerra civil de Beirute.

Sobre Futebol e Barreiras (2011)

Este é um filme de Arturo Hartmann, Lucas Justiniano, José Menezes e João Carlos Assumpção, que aproveita a Copa do Mundo de 2010 como gancho para discutir assuntos polêmicos para Israelenses e Palestinos. O documentário mostra, através de uma ótica peculiar e delicada, a opinião de seus personagens. Um ex-jogador israelense, um judeu israelense que torce pela Alemanha, um editor de televisão ex-combatente do exército, dentre outros. Expõe o inconformismo e liga os personagens pela vontade de liberdade e fim dos conflitos. A fotografia e trilha sonora só ajudam na construção de um documentário bem sucedido.

Website oficial – http://sobrefutebolebarreiras.com.br/

Constantino

Na contramão dos outros filmes citados acima, o diretor Otavio Cury (Cosmópolis) apresenta uma produção extremamente intimista. A partir de um livro escrito pelo seu bisavô, Daud Constantino Al-Khoury, o documentário percorre desde a tradução do livro até a viagem do diretor para a Síria, aonde descobre facetas até então desconhecidas do antepassado. O filme deve entrar no circuito comercial na terceira semana de agosto.