Por Joyce Pais

Chistophe Honoré abre seu novo musical com uma versão em francês de “These boots are made for walkin”, imortalizada na voz de Nancy Sinatra. Depois de Canções de Amor (2007), o diretor, apaixonado pelas incongruências do destino, dessa vez, passa por diferentes cidades e idiomas, para chegar num ponto que tem sido seu objeto de estudo: amores imperfeitos.

Nos anos 1960, Madeleine (Ludivine Sagnier), uma vendedora de uma loja de sapatos, começa a fazer programas após ser confundida na rua com uma prostituta, justificando para si mesma que este seria apenas “um meio de comprar mais sapatos e vestidos”. Aqui, se estabelece uma construção visual muito interessante que vai se repetir em alguns momentos do longa: planos fechados em sapatos se fundem com o envelhecimento das personagens, atuando como um interessante marcador de tempo. Muitos homens passam pela cama de Madeleine, até ela se apaixonar por um médico tcheco, Jaromil (Radivoje Bukvic; na velhice interpretado por Milos Forman), com quem tem uma filha e se muda para a cidade de Praga. A infidelidade do marido e a instabilidade política do país no final dos anos sessenta são os principais motivos que a fazem voltar a Paris com sua filha, Vera (Chiara Mastroianni).

Por meio de cortes entre passado e presente, entre anos 1960 e 2000, o filme se concentra na figura de Madeleine (interpretada posteriormente por Catherine Deneuve, a “Bela da Tarde” de Buñuel) e Vera que, nitidamente, sofre com as escolhas feitas pela mãe ao longo da vida. E é sintomático que em sua primeira aparição na fase adulta Vera seja apresentada em um bar alternativo de Londres, ao som de rock, vestindo um look moderno – Vera transpira sua insegurança, sua incompletude. Numa possível repetição da história da mãe, ela parece fadada a amar e não ser amada, seja no âmbito familiar fragmentado ou no amoroso. Sua investida mais recente é em Henderson (Paul Schneider), músico norte-americano gay radicado na Europa, mas mantém um affair com um colega de trabalho, o professor Clément (Louis Garrel, queridinho de Honoré e ícone francês da atualidade). Diga-se de passagem, um personagem irritante e exagerado, que, para minhas surpresa, pela primeira vez, me fez torcer para que as cenas com Garrel acabassem logo.

Para quem conhece a parceria do diretor com Alex Beaupain, quando soam as primeiras notas de suas composições, logo se sente num ambiente familiar, como uma velha lembrança que ainda é capaz de render um sorriso discreto quando vem à tona. O uso da trilha sonora é eficaz, principalmente por agregar significado à trama, sua inserção em nenhum momento é gratuita, se coloca sempre entrelaçada à narrativa.

A escolha dos atores contribuiu, e muito, para a obra, que só reforça o trabalho autoral realizado com personalidade por Honoré. A bem elaborada direção de fotografia e de arte, foram capazes de recriar com perfeição cenários, texturas, e situações perfeitamente plausíveis, o que ajudou o longa nos saltos temporais que se colocam com frequência.

O diretor costuma utilizar a cidade como um personagem tão importante quanto seu  elenco. Seja a Paris de sessenta ou a Londres atual, a cidade não é um mero pano de fundo, ela interage com seus personagens e atua, até certo ponto, de forma decisiva no desenrolar desses relacionamentos complexos.

Se Cancões de Amor apontava para um futuro em aberto, novas possibilidades, para a superação dos traumas vividos, em Bem Amadas o fim soa iminente. Frases cortantes  mostram, ao mesmo tempo, que se o amor ideal não existe, tampouco pode-se viver sem buscá-lo. É impossível ser indiferente ao trabalho de Chistophe Honoré.

 

Cinemascope---Bem-Amadas-PosterBem amadas (Les bien-aimés)

Ano: 2011

Diretor:  Christophe Honoré.

Roteiro: Christophe Honoré.

Elenco Principal: Catherine Deneuve, Louis Garrel, Chiara Mastroianni, Ludivine Sagnier.

Gênero: Drama

Nacionalidade: França/Reino Unido/República Checa

 

 

 

 

Veja o trailer:

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