Por Ana Lucinski

Há muito tempo eu andava preocupada com as produções da Disney. Depois da era da animação quadro a quadro desenhada a mão, na qual a Disney reinava triunfante, com a chegada da era 3D, senti um enfraquecimento nas suas produções. Apareceram milhares de continuações de clássicos já consagrados, continuações desnecessárias e algumas até sem conteúdo. Era como se o estúdio estivesse apenas reciclando histórias e arrancando delas até o que essas não podiam mais oferecer. Eis que para minha alegria, e para começar 2013 com o pé direito, a Disney aparece com uma animação criativa e diferente do que estavam produzindo antes.

Detona Ralph conta a história de um vilão de videogame que trabalha na mesma coisa há 30 anos. Cansado da vida de vilão, ele decide quebrar as regras, sair de seu jogo e tentar conquistar uma medalha em outro jogo. Claro que isso gera muitas confusões e, em meio a elas, Ralph conhece Venellope von Schweetz, um bug de um jogo de corrida.

Ralph tem como trabalho destruir o prédio onde moram os gentilândios, e Conserta Felix Jr. deve consertar tudo e salvar o dia. Porém Ralph começa a se questionar se quer continuar sendo vilão. O problema de Ralph com o trabalho é um problema comum na nossa sociedade. O cara que não gosta do que faz e que começa a se questionar se está programado para fazer isso e pronto. Achei muito bom essa mistura de realidade e ficção. O problema é cotidiano, mas o personagem não. Uma forma muito legal de abordar o tema.

Ralph frequenta uma reunião para vilões anônimos, onde temos vilões conhecidos dos antigos jogos dos anos 80 e 90. Presidindo a reunião temos o fantasminha do Pacman com as melhores expressões e reações dessa reunião. Zangief dando seu depoimento é simplesmente cômico. Zangief, para quem não se lembra, é um dos vilões de Street Fighter da versão lançada em 1987. Ainda temos a presença ilustre de Eggman, o vilão do Sonic, Bowser do Super Mario, M. Bison que é o principal vilão de Street Fighter e Neff de Altered Beast. Entre outros personagens conhecidos que aparecem ao longo da história, como Sonic, que também faz sua pontinha no filme.

Eu não sou tão velha quanto esses vilões, mas tive a oportunidade na infância de frequentar um fliperama que tinha todos esses jogos. Não posso negar a vontade que me deu de jogar algum desses jogos de novo! Tão nostálgico! E aposto que qualquer um que tenha passado sua infância nos anos 80 e 90, e que frequentava fliperamas, vai adorar esse filme.

O filme é bem complexo se analisado mais profundamente. Temos desenhados, contando com personagens figurantes, cerca de 182 personagens e quatro mundos elaborados. Dentre os quatro mundos, três são mundos de jogo e cada um tem sua história, que seria a história do jogo, o enredo. É como se tivessem criado três jogos diferentes. Foi preciso estudar a estrutura dos games, a jogabilidade, o movimento e outros detalhes para criar esses mundos. Sem contar os cerca de 2 mil efeitos visuais. O filme está lindo e sem sombra de dúvida, deu muito trabalho.

Um dos mundos é o jogo onde Ralph vive, o Conserta Felix Jr., um mundo baseado nos jogos de 8 bits. A Disney ganha nos detalhes nessa hora, pois nesse mundo o movimento dos personagens segue o padrão angular e reto dos personagens dos jogos em 8 bits, até mesmo fogos de artifício e comida espalhada pelas paredes ficaram pixelados. Talvez esse tenha sido o maior desafio dos animadores, pois com a tecnologia de hoje, conseguimos nos aproximar mais e mais dos movimentos humanos, mas nesse caso, os animadores tiveram que se segurar e fazer cada movimento o mais simples possível.

Outro dos mundos é o Missão de Herói, um jogo mais parecido com os atuais, onde os personagens são em alta definição. A Sargento Calhou é outra personagem que aparece na história. A história da “programação” de vida dela é típica de história de heróis. Adorei cada detalhe e cada flashback da personagem. Humor na dose certa com certeza.

O mundo onde a maior parte da história acontece é o mundo da Corrida Doce. Onde tudo é feito de doce. Carros, prédios, população, enfim, tudo mesmo. O mais interessante é que para construir esse mundo eles se inspiraram nas obras de Antoni Gaudí. Achei a ideia genial. E para o desenvolvimento dos personagens desse mundo, basearam-se nas garotas de Harajuku, com suas roupas coloridas e seus acessórios malucos. Eu com certeza jogaria Corrida Doce, apesar de ser um desastre em jogos de corrida. O cenário é tão lindo e bem feito que dá gosto de ver.  É nesse mundo que Vanellope aparece, o bug mais fofo e engraçado que um jogo poderia ter.

O que poderia ser chamado de um quarto mundo seria a estação central, onde os personagens transitam de um jogo para o outro. Se prestar atenção é possível ver diversos personagens de outros jogos figurando no filme.

Considerações finais? Bom… A história é ótima! Tem um nível de complexidade muito bom, não é uma história boba e sem sentido. No quesito visual, nota 10 para o estúdio. A animação esta belíssima. E como pra mim os detalhes fazem toda a diferença, esse filme definitivamente me ganhou em cada detalhe. Adorei!

 

Cinemascope---Detona-Ralph-PosterDetona Ralph (Wreck-It Ralph)

Ano: 2012

Diretor: Rich Moore.

Roteiro: Phil Johnston, Jennifer Lee, Rich Moore.

Vozes: John C. Reilly, Jane Lynch, Dave Foley.

Gênero: Animação.

Nacionalidade: EUA.

 

 

 

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