Por Paulo Junior

 

Novo filme de Paul Thomas Anderson, um dos cineastas mais promissores da atualidade, O Mestre conta a trama de um veterano de guerra que, após fracassar em tudo na vida, descobre uma seita religiosa – conhecida como A Causa – e torna-se membro dessa religião, além de ser o principal empregado do líder da organização.Freddie Quell (Joaquin Phoenix) é um ex-marinheiro que atuou na Segunda Guerra. Antes de partir para o combate, Freddie conhece a jovem Doris Solstad (Madisen Beaty), eles mantem um breve affair, o que o faz pedir para que ela o esperasse. Logo nos primeiros minutos do longa-metragem, vemos que a guerra transformou Freddie em um ninfomaníaco alcóolatra.Ao retornar, Freddie retoma sua vida, porém, ao invés de ir atrás de seu grande amor, prefere ser fotógrafo. Após um desentendimento com um cliente, resolve trabalhar no campo. Entretanto, após mais um desentendimento, sai fugido de lá e encontra um barco prestes a zarpar. Na manhã seguinte, Freddie conhece Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), criador de uma organização religiosa chamada A Causa. Após um breve dialogo Dodd convida Freddie para um trabalho, que aceita sem titubear.

Dodd, que fora atraído pela bebida misteriosa, fica fascinado pela figura de Freddie. Ambos têm um breve dialogo, onde Dodd – conhecido como mestre – faz uma série de perguntas a Freddie e descobre alguns de seus segredos. A organização religiosa atua através de sessões do mestre, onde – por meio de hipnoses – viaja pelas vidas passadas das pessoas, com o proposito de curá-las de alguma enfermidade. O líder carismático, observando a figura degenerativa de seu novo empregado, resolve utilizá-lo como cobaia de suas teorias. Fazendo uma série de exercícios exaustivos, o mestre leva Freddie ao extremo, com o proposito de salvá-lo de seus males.

A organização religiosa A Causa é inspirada na cientologia – seita criada no ano de 1952 – e Dodd, ou o mestre, é inspirado no criador da cientologia, o escritor de obras de ficção cientifica, L. Ron Hubbard. Claramente, vemos inúmeras evidências da crítica feita por Anderson em relação à seita religiosa. Primeiro, o mestre é um exímio escritor, que publica inúmeros livros onde aborda teorias de sua religião. Sabemos claramente que Hubbard era um grande escritor, tendo publicado três livros que definem sua organização religiosa: Dianética: a moderna ciência da saúde mental, Dianética: A Evolução da Ciência e Ciência da Sobrevivência.

Em um determinado momento do longa, Dodd tem problemas com a justiça. Acusado de fraude, fica preso durante um período. Hubbard, na década de 1970 – ao viajar com seu navio divulgando sua religião (algo semelhante ao filme, em que Dodd percorre pelos EUA em seu navio, realizando sessões) – é condenado, na França, por fraude. Outra questão interessante é que Hubbard, assim como Dodd, lutou na Segunda Guerra. Além disso, Dodd – logo no início do filme – intitula-se com viajante, físico nuclear e escritor, da mesma forma de como Hubbard se definia.

Finalmente, tanto a Causa quanto a cientologia, misturam diversas religiões, como o cristianismo e o espiritismo. Isso é claro na questão das viagens pelas vidas passadas dos membros da seita. Anderson, em seu filme, critica essa organização que se tornou febre entre as celebridades de Hollywood (Tom Cruise e John Travolta são alguns de seus membros) e que é uma das seitas mais polêmicas atuais.

Além das diversas semelhanças e a crítica de Anderson à organização, o longa – rodado em 70mm – possui uma belíssima fotografia e uma trilha sonora muito bem construída, onde imagem e som se entrelaçam, proporcionando um ritmo intenso ao longo de duas horas e meia de filme. Joaquin Phoenix está excelente em sua atuação, beirando a perfeição com seu personagem vazio e sem destino. Philip Seymour Hoffman e Amy Adams atuam maravilhosamente no papel do líder carismático e de sua mulher incentivadora.

Apesar de não ser tão bom quanto Sangue Negro, as personagens principais se mesclam. Enquanto Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) possui o proposito de enriquecer a qualquer custa, Freddie é um homem sem destino que se frustra constantemente, seja com a sociedade em que está inserido, seja com a seita da qual é membro. De certa forma, Freddie pode representar o sentimento de Plainview no final de Sangue Negro, onde depois de suas conquistas financeiras, se cansa de tudo e de todos ao seu redor, praticando ações impensadas e fazendo o que bem entender. Por fim, O Mestre – representando uma sociedade pós-guerra vazia, insatisfeita e cheia de angústias, tendo que se agarrar em ideologias baratas para obter falsas respostas e uma possível forma de salvar-se – é um longa-metragem muito bem trabalhado, com uma crítica bem fundamentada e com excelentes atuações.

 

Cinemascope---O-Mestre-PosterO Mestre (The Master)

Ano: 2012

Diretor: Paul Thomas Anderson.

Roteiro: Paul Thomas Anderson.

Elenco Principal: Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix, Amy Adams, Laura Dern, Jillian Bell.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: EUA.

 

 

 

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